PEDROTO AINDA

As memórias do meu pai, Joaquim Queirós, sobre JM Pedroto:

Vários jornais, no dia de hoje, publicaram extensas prosas sobre a vida do treinador José Maria Pedroto, quando da passagem do 25º ano da sua morte. Associamo-nos à efeméride e lamentamos a perda de um nome grande do futebol português e de um amigo. Mas algo ficou por contar, talvez pela juventude de alguns dos que falaram sobre o "Zé do Boné", que não tiveram oportunidade de privar com o mesmo, mas já é de lamentar que a história da sua carreira não tenha sido bem contada. Também já nos falta o Manuel Dias para saber falar de tudo.
Ora o Pedroto que começou a sua carreira nos juniores do Leixões, quando ainda residia em Pedras Rubras e frequentava a relojoaria do saudoso Albano Basto, dirigente, anos a fio, do Leixões, cedo começou a dar nas vistas e quando do serviço militar foi para Tavira e jogou em Vilas Real de Santo António. Naturalmente, deu nas vistas. E o Belenenses arregalou os olhos, servindo-se do meio em que se movimentava da alta política e do sócio Américo Tomaz, Pedroto foi transferido ao abrigo duma Lei Militar (nesse tempo ainda não se falava em apito dourado). E Leixões nada conseguiu dizer. Caladinho porque o respeito e o Estado Novo mandavam assim.
Passado algum tempo, para espanto de todos, Pedroto é transferido para o FC Porto, salvo erro por 300 contos (então a maior transferência no futebol Português) e o Leixões nem sequer teve direito a...30o escudos!
E começa então a ascensão do futebolista até vir a ser treinador, também se a memória não me atraiçoa estreando-se na Académica. Depois seguiu-se o Leixões e acontecer-lhe-ia a única "chicotada psicológica" da sua grande e gloriosa carreira.
O Leixões tinha perdido em Torres Vedras por 4-0 e ficou com os pés mergulhados na descida de divisão. A Direcção presidida por Francisco Mil Homens decidiu despedir Pedroto. E fomos nós que tivemos de o fazer, na qualidade de secretário geral do clube. Não esqueceremos, jamais, as escadas da sede em Roberto Ivens, por cima da garagem S. Salvador, quando lhe demos conhecimento. Custou-lhe, naturalmente, a a aceitar. Até chorou, dizendo-nos: "não me façam isso" . E o Leixões tinha de o indemnizar, mas não tinha dinheiro, o que motivaria, mais tarde, uma acção judicial, em que até as chuteiras dos jogadores foram penhoradas.
Tivemos, então, de contratar um novo treinador, sendo incumbidos da dificil missão nós e o outro dirigente que era o saudoso Mário Maia. Este sabia muito de andebol, portanto, como ós já andávamos pelos jornais, responsabilizou-me pela tarefa. Conheciamos um nosso amigo jornalista, já falecido, casado com uma senhora espanhola, das Canárias, que tinha relações de amizade com uma família canarinha em que havia um treinador. Chamava-se Ruperto Garcia e havia treinado a selecção da Venenzuela.
O senhor veio a Matosinhos e tudo foi tratado a alta velocidade. Um homem sério que até prescindia dos prémios para os distribuir pelos jogadores. De treinador percebia pouco e os seus métodos eram até discutidos pelos jogadores. Mas a verdade é que logo na primeira saída o Leixões foi ao Seixal e venceu por 3-0. E daí para a frente os resultados foram aparecendo e o Leixões não desceu de divisão.
Ruperto Garcia foi-se embora no final da época, mas decidiu escrever uma autobigrafia, na qual escreveu: "em tantos de tal, fui treinar o Leixões, substituindo José Maria Pedroto e salvei o clube de descer de divisão". E foi verdade.
Mais tarde, já quando Pedroto era o treinador glorioso e nós havíamos feito as pazes com ele, já jornalista, nas madrugadas debaixo da pala do Café Orfeu, na Julio Diniz, quando a discussão era grande com o Nuno Brás, PInto de Sousa, Manuel Dias, Serafim Ferreira, Frederico Mendes, ós quando queriamos ver o Pedroto "saír dos carris", atirávamos: "olhe que eu vou buscar o livro do Ruperto Garcia". E entornava o caldo.
Recordamos a sua passagem pelo Leixões internacional (jogos com o Celtic) e quando Pedroto decidiu ir buscar o seu colega de equipa Carlos Duarte para jogar no Leixões. Nas zangas dele com Auricélio Matos por causa da preparação. Na exigência que ele fez ao clube na contratação do espanhol Cambre, que jogava no Arosa, dizendo que era dos melhores jogadores que vira. Fez o Leixõe sum esforço danado e foi quase "raptar" o "El Cordobez" a Espanha. O rapaz veio, mal teve tempo de conhecer Matosinhos, embarcou para Escócia, apanhou pancadaria dos escoceses (perdemos por 3-0), regressamos a Matosinhos e o Cambre nunca mais jogou...


Fizemos depois um percurso de amizade e de admiração. Seguimos a sua terrivel doença e não esquecemos o abraço que lhe demos numa tarde de sábado, nas Antes, depois de um dos seus regressos de Londres, onde se tratava.


Ficam aqui estes apontamos para ajudar à história. Para ficar mais completa.

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