A DECADÊNCIA DE UM PODER


O boicote do Nacional da Madeira à cobertura do seu jogo europeu é o zénite da impunidade dos clubes nas suas relações com os media. O clube de Rui Alves mandou às malvas o interesse público e pediu uns trocos por 3 minutos de resumo de um jogo do qual, presumo, não há imagens.
Pois bem, meus senhores, parece que chegou a hora de se pôr um travão a este desmando.
Há muito tempo que os clubes fazem gato-sapato dos órgãos de Comunicação Social, embora muitos deles, através dos seus responsáveis, até entendam esta estragégia como um benefício - a subserviência rende sempre algumas migalhas.
Os maiores clubes silenciaram os artistas da bola, obrigam os treinadores a dizer barbaridades e negoceiam entrevistas através de marcas de artigos desportivos ou então sob influência dos grandes empresários de futebol.
São muitos raros os momentos em que os protagonistas do futebol podem falar de futebol e por isso é que os programas televisivos foram povoados por médicos-cirurgiões, presidentes de câmara, economistas, produtores de vinho do Porto, promotores de eventos, realizadores de cinema, meninos ricos ou simples curiosos.
Os jornais desportivos, esses, para conseguirem uma entrevista com um jogador têm de revelar bom comportamento e muitas vezes de respeitar determinados guiões, com algumas honrosas excepções.
A moda dos treinos à porta fechada pegou e hoje apenas o Leixões de José Mota realiza TODOS os seus treinos à porta aberta.
Os grandes concedem 15 minutos para a tomada de imagens apenas porque há compromissos publicitários para respeitar.
E aí temos a Benfica TV, que ontem tive o "privilégio" de ver pela primeira vez, já a dominar a transmissão de jogos da maior marca portuguesa, proporcionando-nos o espectáculo de um comentador devidamente equipado com um cachecol do glorioso.
Clubes como Benfica podem fazer estas brincadeiras porque têm, de facto, um produto para vender. Mas há limites.
Porém, os limites há muito tempo que foram ultrapassados.
Os clubes fecham as portas quando querem, escolhem os jornalistas, escolhem os jogadores que devem falar e criaram centrais de informação que não são mais nem menos que uma forma de controlar o que se passa nas redacções.
A caixa de Pandora foi aberta e ninguém berrou.
O que o Nacional fez é apenas um sinal dos tempos.
Perdeu-se o respeito pelo jornalismo porque o jornalismo também não se fez respeitar.
O que vem aí não pode ser melhor.
Como diz um amigo meu brasileiro, "não há nada tão ruim que não possa piorar".