SONHO DE UMA NOITE DE INVERNO


Esta noite sonhei que estava a entrevistar Pinto da Costa. Eis o relato desse sonho.


- Presidente, costuma ler jornais?
- Confesso que a leitura diária dos jornais me reconforta. É interessante perceber que a inveja continua a comprometer a seriedade e a cegueira a subverter os princípios da profissão. Será sempre assim no caso do FC Porto.
- Andam por aí muitos invejosos, não é?
- É um excelente reflexo da nossa competência e não costuma justificar mais que um encolher de ombros. Esta segunda-feira, todavia, detive-me na primeira página da O Jogo. Fogo nela!
- Mas, presidente, fogo n'O Jogo, mas aquilo já está tudo a arder...
- «Erro confirma líder». A manchete é suportada pela unanimidade do Tribunal de Árbitros, mas esquece que, aos 18 minutos, Reyes rasteirou Lucho González, como confirmam as opiniões dos três ex-juízes. Apesar de concordar com a decisão de Pedro Proença, António Rola diz que Lucho sofreu de facto um toque, mas deixa no ar a lógica da lei da vantagem. Não há lei da vantagem numa grande penalidade, caro Rola!
- Desculpe, disse O Jogo?
- Sim, O Jogo fechou os olhos a duas evidências: uma grande penalidade e uma entrada violenta de Sidnei sobre Lucho González, que se enquadrava num cartão vermelho. Tudo isto ainda na primeira parte, com um empate sem golos. Não acham que mudaria por completo o clássico? Talvez o lance aludido na capa de hoje não merecesse sequer referência nas páginas interiores…
- Considera O Jogo um jornal isento?
- Mas que importa isso? Para quem não é isento, de facto, não conta para nada… De relevar, isso sim, apenas o tom da ocorrência.
- O FC Porto é uma vítima do anti-sistema?
- Será sempre assim, já o disse. O fogo do Labaredas, porém, não pode ser reprimido. É que no preciso momento em que lia os jornais, passei os olhos pelo resumo da RTP. A mesma lógica, desta vez com uma agravante: nem uma referência ou imagem do penálti sobre Lucho González. Perfeito para agradar a quem manda!
- O fogo do dragão e do Labaredas incomodam muito gente...
- O F.C. Porto, de facto, serve-lhes para tudo. Menos para serem felizes.