SAL(g)AL(h)ADA DE FRUTA

Pinto da Costa foi escutado desde Outubro de 2003 até Maio de 2004. Como disse o juiz de instrução Artur Ribeiro, que não mandou para julgamento o "caso da fruta" que agora caiu definitivamente de podre com uma decisão final do Tribunal da Relação do Porto, "foi quase uma época futebolística e o resultado foram dois casos". Por acaso não foi tão pouco. Para além do processo relativo ao jogo FC Porto-Estrela da Amadora e Beira-Mar-FC Porto (que será julgado em breve), o presidente portista foi arguido noutros processos. Um desses caiu no final do ano passado no Tribunal de Gondomar, também na fase de instrução, e dizia respeito à sua presumida influência no desfecho do jogo Nacional da Madeira-Benfica, também da época de 2003/2004, se bem estão lenbrados aquela que terminou com o FC Porto a sagrar-se campeão europeu em Gelsenkirchen, ou seja, em pleno esplendor da era José Mourinho.
Considerou também o juiz de instrução que fechou o processo da fruta que Carolina Salgado não falou verdade quando disse ter assistido a uma conversa telefónica entre o então seu companheiro e o empresário António Araújo, a tal conversa, que quase todos conhecem, da "fruta para dormir". A convicção do juiz é a de que no momento daquela conversa Carolina não estava com Pinto da Costa, como resulta das escutas telefónicas. Ou seja, por muito irónico que possa parecer foram as escutas que "salvaram" o presidente portista neste processo de que resultou já, na Comissão Disciplinar da Liga, uma condenação por tentativa de corrupção, tendo como consequência a subtração de 3 pontos aos portistas na épcoa de 2007/2008 e a suspensão do líder e criador dos dragões.
Carolina Salgado nunca foi neste processo uma boa testemunha. Antes de tudo porque quando se assumiu como "garganta funda" fê-lo num ambiente de revánche, poucas semanas antes de lançar o seu livro. É certo: a senhora viveu seis anos com Pinto da Costa, sabe o que a casa gasta.
Se ouvirmos, por exemplo, a conversa entre Pinto da Costa e António Araújo sobre a "fruta para dormir" e o "chocolatinho para logo à noite" percebemos todos que não estavam a falar de fruticultura, de insónias ou de problemas de colesterol. Mas não chega para se provar que, de facto, a equipa de arbitragem foi comprada com um jantar e com uma noite de farra. Era preciso muito mais que um dos árbitros assistentes - Manuel Quadrado – a confessar em fase de inquérito que alguns dias depois do sucedido caiu em si e pensou que poderia ter caído numa situação que envolvia o FC Porto...
Vamos admitir que este caso é todo ele uma falácia. Que os árbitros não jantaram no mesmo restaurante que Pinto da Costa. Que Reinaldo Teles não os conduziu ao hotel. Que as meninas brasileiras foram uma oferta de um amigo de Paixão e que Araújo apenas tratou do assunto. Que quando Pinto da Costa e Araújo falavam de "fruta para dormir" e referiram a sigla JP estavam a falar de Joaquim Pinheiro, dirigente do FC Porto e irmão de Reinaldo Teles.
Tudo isto parece demasiado burlesco. Mas, confirma-se, a justiça em Portugal gosta é disso mesmo: de ópera bufa. Não se apanham tubarões com anzol mas, caramba, o problema das insónias está definitivamente resolvido: coma fruta!

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