OS PROVINCIANOS SOMOS NÓS


Sete anos dá, e sobra, para tirar uma licenciatura e o respectivo mestrado. Por isso, acho que tenho o "curso superior alfacinha" ou não tenha o "je" vivido em S. Vicente de Fora e perto do largo do Intendente Pina Manique, com uma passagem também pela queirosiana Rua das Flores embora mais descaído para o Cais do Sodré. Conheço a fauna jornalística lisboeta e a do Porto, sobretudo no que ao desporto diz respeito. E só posso concluir isto: há provincianos em todos o lado. Isto partindo do princípio que o provincianismo é um desvio de personalidade, um recalcamento, uma dor psicótica... Seja. O que verifico, cada vez mais, é uma sanha contra determinados árbitros em nome de uma pureza desportiva que ninguém sabe definir. Aliás, a dificuldade começa na enunciação das Leis do Jogo, que poucos conhecem, mesmo que seja pela rama. E porquê? É simples: se procuraram em qualquer curso de jornalismo, estudam-se todas as leis menos as leis do jogo, embora muitos estudantes sejam depois absorvidos no mercado do chamado "jornalismo desportivo". É apenas mais um sinal da forma diletante como é encarado o fenómeno desportivo, partindo-se do princípio que toda a gente sabe de futebol e, como tal, este não precisa de ser ensinado e explicado. Mas devia. Felizmente, nos últimos anos, na área da análise técnica do futebol têm aparecido excelentes analistas (Tadeia, Lobo, Rosado, Manha...) mas não sei se o povo lhes presta a devida a atenção ou se se dedica exclusivamente a tentar perceber por que cores torcem os homens. Com os árbitros é o mesmo. O que interessa saber é se são do Porto ou de Lisboa, quantos penalties não marcaram no último jogo que apitaram do nosso clube, se algum dia foram apanhados numa escuta do Apito Dourado ou de que cor é o carro onde se transportam. Os respectivos percursos e as dificuldades que sentiram para atingir o topo...isso não interessa, nem a análise das respectivas capacidades técnicas e intelectuais. Conheço alguns dos nossos árbitros de top e aprendi a respeitá-los não apenas como oficiantes do futebol mas sobretudo intelectualmente. Sei que não há anjos e demónios, sei que no caminho que fizeram tiveram de fazer alguns cedências e de engolir alguns sapos, mas sei também que hoje são os últimos a querer errar. Temos todas as razões para confiar na maioria dos árbitros que temos e para perceber que se o nosso futebol não é melhor não é por causa da qualidade dos nossos apitadores mas sobretudo devido à incapacidade dos dirigentes para prever o futuro. De dirigentes que de trolhas passaram a senhores presidentes. Há muitos ainda por aí, infelizmente. Claro, temos ainda os jornalistas que se dizem impolutos e que urram e largam baba quando vêem jogos dos respectivos clubes. Tipos com uma capacidade crítica e uma isenção irrepreensíveis, arautos de uma verdade que todos sabemos ser uma grande mentira. Mas é o que temos. E se calhar mais não merecemos