UM "BODE" CHAMADO PAIXÃO

Nunca considerei Bruno Paixão um árbitro de grande qualidade, embora saiba que vários responsáveis do sector têm uma opinião bem diferente, razão pela qual, por exemplo, elegem-no para embates como o de domingo em Alvalade. Não aprecio a forma pouco convicta como dirige as partidas ou a forte tendência para ser o centro das atenções. Umas vezes é exageradamente permissivo com as acções dos jogadores, enquanto noutras parece estar no meio de uma batalha campal, distribuíndo cartões a torto e a direito. Por outras palavras: não o aconselharia - caso isso seja possível um dia e o senhor esteja interessado - a enveredar pelo profissionalismo. Deve ter mais jeito noutra área qualquer.Posto isto, há que acrescentar que o desempenho de Paixão no Sporting-FC Porto não foi, de facto, famoso. Bem pelo contrário. Como de costume, utilizou critérios diferentes em lances similares; nunca soube distinguir agressividade de violência; perdeu muito cedo o controlo das operações e cometeu um ror de falhas técnicas, ignorando, por exemplo, algumas grandes penalidades, das mais óbvias às dúbias. Mas, depois de assistir ao coro de críticas a que foi sujeito no final da partida, sinto necessidade de dizer que, muitas delas, são injustas e infundadas. Estamos a falar de um árbitro sofrível e de uma exibição fraquinha, mas convém realçar que nem o FC Porto ganhou ou o Sporting perdeu por sua culpa. E caso a lotaria dos penáltis tivesse sido favorável aos leões... diria exactamente o mesmo. Se Paixão teve algum mérito foi não ter prejudicado o clube A ou B. Limitou-se a ser mau para ambos, para o futebol, para si próprio.Técnicos e jogadores, no final do duelo, falaram a uma só voz, atacando Paixão como se fossem do mesmo emblema. Mas se concordo que todos tinham razão em apontar-lhe erros, alguns deviam pensar bem antes de abrir a boca. É que assim evitavam, também eles, fazer tristes figuras, pois parece claro que muitos dos intervenientes não fazem a mínima ideia dos lances que protagonizaram em campo. Ou então têm a memória curta e/ou selectiva...Hulk não foi bem expulso depois de, tendo um amarelo, simular (mal) um penálti? Pedro Emanuel não foi correctamente admoestado com o segundo cartão após "varrer" João Moutinho? Caneira não bateu com a bota em Hulk após uma queda e de seguida não teve comportamento incorrecto (sujeito a sanção disciplinar) ao alinhar num "encosto de cabeça" com o brasileiro?Se jogadores e técnicos se derem ao trabalho de rever o jogo vão perceber que, caso Paixão fosse um bom árbitro, talvez a partida tivesse mais que 3 vermelhos. Para além das expulsões por acumulação, pelo meio ainda se arranjavam alguns lances que podiam ter valido saídas de cena directas.Entre todas as críticas, a mais feroz e desmedida foi a de Paulo Bento que, visivelmente nervoso, generalizou sem razão. O técnico leonino considera que todos os árbitros portugueses são incompetentes. É a sua opinião e respeito-a. Mas será que não se salva nenhum? Os bons só existem no estrangeiro, nas competições internacionais? Será que lhe agradam o que recentemente impediu o Atlético de Madrid de vencer em Liverpool, o que sonegou a participação do Vitória de Guimarães na "Champions" ou aquele que, no último Europeu, não viu Ballack a empurrar Paulo Ferreira?Portugal tem, efectivamente, alguns maus árbitros. Mas eles existem em todo o lado. O problema é que aqui todos os clubes gostam de justificar os desaires com os erros alheios. Nesta nossa terra, os juízes vestem regularmente a pele de "bodes". O de domingo chamava-se Paixão!PS - Só por curiosidade, gostava de saber quantos penáltis Paulo Bento considera terem existido em Alvalade...
LUÍS AVELÃS
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