MAIS UMA PÉROLA DEONTOLÓGICA


Recomendação do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, esta sobre a linguagem violenta utilizada no noticiário desportivo:
«Transformar todos os desportos em competições de gladiadores, de luta livre ou de
boxe ou futebol é redutor para o desporto, desaconselhável para os jornalistas e fastidioso
para os leitores, ouvintes ou espectadores. O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas foi, a este propósito, alertado por um pai que descobriu no filho de 11 anos potencialidades para o hóquei em patins e decidiu incentivá-lo na prática dessa modalidade. Tudo bem, não fosse a tendência quase avassaladora do jornalismo desportivo para tratar qualquer evento como se fosse único, terrível e grandioso. O pai deste pré-adolescente enviou ao Conselho Deontológico alguns excertos dos jornais que fizeram a cobertura noticiosa do torneio que juntou participantes entre os oito e 11 anos e que dão a ideia geral do estilo adoptado pelo jornalista: «Em busca de vingar», «humilhar o adversário em sua própria casa», «revelando que o Alfena era mais um alvo a abater», «Vingança saborosa» e «decidiram partir para a humilhação do adversário». São
alguns dos exemplos desta prosa que só pelo seu mau gosto já seria de bom-tom eliminar.
Infelizmente, frisa este pai, tal tipo de jornalismo tem efeitos negativos nos jovens ainda crianças, que, fazem do hóquei a sua diversão. É na alegria dos jogos que se sentem ompensados dos sacrifícios dos treinos e do cansaço das viagens. Na sua apreensão da vida, estes jogos nada têm a ver com «vingança» nem «humilhação». Para lá do apelo constante ao respeito pelo Código Deontológico dos Jornalistas, designadamente os artigos 2º e 7º, o Conselho Deontológico quer, a este propósito, reforçar as recomendações da UNESCO sobre «o compromisso ético para com os valores universais do humanismo que obriga o jornalista a abster-se de toda a forma de apologia ou de incitamento de todas as formas de violência, de ódio ou discriminação». Porque as escolas, os clubes profissionais, os clubes sociais são os principais lugares onde estas actividades se desenvolvem numa abrangência educacional de milhares de crianças, o seu tratamento noticioso exige bom senso. Ao invés de algumas opiniões que circulam subterrânea e insidiosamente entre certos analistas, a especialização jornalística obriga a um maior respeito pelo Código Deontológico dos Jornalistas e não o contrário.
Sob pena de caírem na denominação de «jornalismo menor» os jornalistas desportivos
devem ser os principais interessados em manter padrões de exigência ética e deontológica. O Conselho Deontológico dos Jornalistas recomenda, por isso, o cumprimento escrupuloso das regras acima referidas e apela ao bom senso e discernimento dos jornalistas para que casos como este não se tornem moeda corrente. Mesmo quando são as «cores da nossa selecção» que estão em jogo, mesmo quando se trata apenas de ganhar, o jornalista desportivo deve ter em conta que o seu objectivo é o relato dos factos. O que não o impede de os transmitir num estilo que atraia o leitor à sua leitura. Mas, acima de tudo, deve recordar-se que é seu dever deontológico «relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade».