VOCÊS SABEM DO QUE ELE 'TÁ A FALAR?


"'Vocês sabem do que estou a falar' é uma frase que me identifica ou com a qual me identificaram. Sugeri-a quando se falou no nome do livro e foi aceite. No fundo, é algo que é real, que é verdadeiro. Afinal de contas, com tudo aquilo que tem vindo a lume sobre algumas situações do futebol português, toda a gente sabia do que eu estava a falar... Apenas por comodidade ou por conveniência ninguém, na altura, tomou qualquer tipo de posição ou quis agarrar naquilo que era dito e analisar, pesquisar, procurar respostas. E em face também do 'Apito Dourado' e de algumas coisas que vieram transcritas na comunicação social, as pessoas acabam por perceber que, efectivamente, nada é novo."

"Nunca fiz mal a ninguém, nem desejo mal a ninguém. Apenas pautei sempre os meus critérios e a minha actuação pelo interesse das instituições que servia, pelo interesse do futebol. Agora, o que penso é que os interesses do futebol têm sido muito mal defendidos. Pessimamente defendidos. Eu não aceito, nunca aceitei, que uma indústria como a do futebol, que gera tanto dinheiro, deixe que as suas empresas estejam em grandes dificuldades. Casos de grandes instituições como o Boavista, que se vê presentemente numa situação extremamente difícil, ou do Farense. Não compreendo como empresas que compram por dez e vendem por mil continuam deficitárias. O futebol em Portugal precisa de uma reviravolta. Eu dou um exemplo, ocorrido há pouco: a Taça da Liga, cujos direitos foram geridos pela Liga de Clubes, viu as suas receitas traduzidas em quase o dobro das da Taça de Portugal. Isto é revelador e deveria alertar os gestores do futebol para uma realidade diferente."

"Há uma série de pessoas que estão marginalizadas no futebol, porque tomaram no passado algumas posições de grande independência. E estão fora. Repare no caso dos treinadores. O Manuel José foi pura e simplesmente afastado do futebol nacional. O Manuel Cajuda regressou há pouco para fazer um excelente trabalho. O Toni está fora. Não pode ser. O que é que isso tem permitido? Que o valor do treinador português esteja valorizado lá fora e fragilizado em Portugal. Porquê? Porque a estrutura em que se apoiam os clubes não depende de si própria, depende de outros interesses, que se conjugam e entrelaçam, que têm a ver, muitas vezes, com a imposição de determinadas regras que são incompatíveis com pessoas que pensam pela sua cabeça."

"O futebol português nunca foi capaz, na sua história, de ser independente em relação à teia de interesses. Fala-se muito nos últimos 30 anos mas sempre foi assim. Todos sabem como se processa a escolha dos dirigentes federativos. Todos sabem tratar-se de um processo viciado. Viciado no sentido de haver interesses que se conjugam, haver acordos, haver procura permanente de lugares em vez da defesa dos interesses do futebol. É público que a grande disputa não acontece pelo cargo de presidente da Federação mas, sim, de presidente da arbitragem. Isto é denunciador de alguma coisa."

"Se há coisa de que tenho saudades é daquele balneário de Alvalade, daquele gente. Já não tenho saudades do FC Porto... Aliás, não conto isto no livro: Pinto da Costa, depois de termos falado, decidido e aceite que a situação no FC Porto era insuportável, convidou-me para me ir despedir dos jogadores ao balneário. "Despedir-me de quem, presidente?", perguntei-lhe. "Dos jogadores", respondeu. Ao que eu lhe retorqui: "Era o que mais faltava. Não vou morrer hoje, com certeza. Aqueles que eu quero encontrar, encontrá-los-ei naturalmente, os outros não me interessam". Eu pergunto onde está a maioria destes jogadores... Depois de eu ter saído, o que foi feito da carreira deles? Estou a lembrar-me, por exemplo de um Soderstrom, que foi internacional sueco comigo; de um Clayton, que era o melhor marcador do FC Porto na Liga dos Campeões; de um miúdo com uma garra tremenda e que hoje está no Boavista com uma vida muito difícil, o Mário Silva; o brasileiro Pena, por onde anda?; ou o Capucho, que terminou a carreira muito mais cedo do que seria de supor?

"Se há coisa de que tenho saudades é daquele balneário de Alvalade, daquele gente. Já não tenho saudades do FC Porto... Aliás, não conto isto no livro: Pinto da Costa, depois de termos falado, decidido e aceite que a situação no FC Porto era insuportável, convidou-me para me ir despedir dos jogadores ao balneário. "Despedir-me de quem, presidente?", perguntei-lhe. "Dos jogadores", respondeu. Ao que eu lhe retorqui: "Era o que mais faltava. Não vou morrer hoje, com certeza. Aqueles que eu quero encontrar, encontrá-los-ei naturalmente, os outros não me interessam". Eu pergunto onde está a maioria destes jogadores... Depois de eu ter saído, o que foi feito da carreira deles? Estou a lembrar-me, por exemplo de um Soderstrom, que foi internacional sueco comigo; de um Clayton, que era o melhor marcador do FC Porto na Liga dos Campeões; de um miúdo com uma garra tremenda e que hoje está no Boavista com uma vida muito difícil, o Mário Silva; o brasileiro Pena, por onde anda?; ou o Capucho, que terminou a carreira muito mais cedo do que seria de supor?"

in EXPRESSO