A CREDIBILIDADE DE FREITAS


Assumo que não sou especialista em leis. Logo, tal como já aqui o disse, não faço ideia se o que se passou na histórica última reunião do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol foi tudo legal, só parcialmente legal ou completamente ilegal. Como “espectador” tenho é a mesma opinião de muitos: independentemente dos conhecimentos técnicos sobre a matéria, o sucedido nessa jornada foi triste, absurdo e humilhante. Para quem participou no acto, para todos os que acompanham e gostam da modalidade, para o futebol português.Depois de um sem número de declarações em sentidos opostos, o País futebolístico acalmou quando Gilberto Madaíl resolveu entregar a Freitas do Amaral a missão de clarificar a situação. Todos os clubes envolvidos foram céleres a aplaudir a decisão do líder da FPF, enaltecendo as qualidades profissionais do ex-político. Estavam todos de acordo: o parecer do professor seria indiscutível, pois tratava-se de um “expert” na área, de uma pessoa acima de qualquer suspeita.É óbvio que essas declarações não passavam de meros exercícios retóricos. Em Portugal, todas as pessoas são competentes e sérias até terem opiniões contrárias às nossas. Exemplos anteriores são mais que muitos e, neste caso concreto, recordo-me de ver dirigentes do FC Porto e do Boavista a elogiar Freitas do Amaral. No entanto, mal se soube a “leitura dos factos” do antigo presidente da assembleia geral da ONU e logo as críticas apareceram. Guilherme Aguiar foi o primeiro (pelo menos aqui no Record Internet). E não foi simpático. Mesmo sem saber o conteúdo do parecer, conseguiu qualificá-lo, de imediato, como “fantasioso”. Nada de estranho. Se a decisão fosse contrária, provavelmente seriam os responsáveis do Paços de Ferreira a ter as mesmas palavras. Por aqui, nesta terra de brandos costumes, a competência depende muito da cor da camisola.Embora o parecer de Freitas do Amaral não seja vinculativo, creio que a partir de agora é praticamente seguro dizer que o Boavista vai mesmo baixar de divisão, que Pinto da Costa vai ser suspenso, que o FC Porto perde 6 pontos no último campeonato. As providências cautelares entretanto apresentadas podem ser facilmente anuladas pela FPF. Basta invocar o interesse público, tal como sucedeu o ano passado com o Gil Vicente. A menos que neste País tudo continue a ser julgado com pesos e medidas distintas consoante os envolvidos.Uma última questão: já repararam que se o parecer tivesse sido pedido a Marcelo Rebelo de Sousa... seria tudo ao contrário, pois este professor “leu” a situação de outra forma? Quer isto dizer que, mesmo entre pessoas sérias e competentes, nem sempre é fácil avaliar as palhaçadas que se fazem no nosso futebol.E por falar em palhaçadas, Freitas sugeriu à FPF algo com que todos os portugueses concordam: este CJ já era, arranjem outro. Bom, se calhar ainda há por aí uns iluminados a quem dava jeito ter esta rapaziada a fazer justiça. A sua justiça...

LUÍS AVELÃS