SE NÃO SE IMPORTAM...


Faz dez anos dia 5, lembrou-me o João Faria, que está sempre atento, que iniciei a minha actividade no "24 Horas", sob a direcção de José Rocha Vieira, um tipo a quem dois meses mais tarde fiz uma patifaria, ao trocar o jornal que então ainda não tinha saído para as bancas por "A Bola", naquela que foi a decisão mais difícil da minha vida mas que tomei sobretudo depois de falar com o meu amigo de sempre Mário Rodrigues, que viria a falecer um dia depois de eu ter colocado tudo em pratos limpos. Mais uma razão para jamais esquecer esse momento turbulento. Há decisões que temos de tomar e cujas consequências nos acompanham para sempre. É o caso desta da qual não me arrependo embora admita ter ficado sempre a pensar como seria se tenho ficado no "24", de onde, mais tarde, Rocha Vieira, um dos meus gurus do jornalismo, também saiu, deixando porém as bases de um projecto jornalístico completamente diferente de todos os outros. Há quem veja nos jornalistas uma espécie de mercenários mas acreditem ou não eu não vejo as coisas assim. Pelos jornais por onde passei - "Gazeta dos Desportos", "Correio da Manhã", "Jornal de Notícias", "24 Horas" e "A Bola" - guardei sempre um bocadinho dessas "camisolas". Os jornais como as mulheres, no fundo, embora estas sejam muito mais difíceis de domar e até de estimar. De todas as experiências, foi na "Gazeta" que mais amigos fiz e onde mais me realizei, tendo, aí, desempenhado quase todas as funções - de paquete a chefe de redacção (só não fui director porque não quis e ficaria mal um jornal, mesmo em fim de curso, ter um director que só usa sapatilhas e que não tem um fato). A "Gazeta" foi um jornal que sempre correu um bocado por fora, com meios muito inferiores à concorrência, mas que deixou marcas para além da espectacular primeira página que tinha toda a cores, com grandes bonecos e sem as pindéricas festinhas do golo que por aí se vêem. Foi um jornal que pode não ter feito cócegas a "A Bola" mas que se aproximou muito do "Record", batendo-se com ele à 6.ªfeira. Por alguma razão o então proprietário do "Record", em 1994, decidiu comprar a "Gazeta" por sensivelmente 400 mil contos. Um ano e meio depois o jornal despedia-se, depois de ter sido dirigido por uma equipa-maravilha seleccionada a dedo pelo João Marcelino! Mas se na "Gazeta" quase tudo me aconteceu, foi no "JN" e no "CM" que o meu ego mais se exaltou. São dois grandes jornais, com gente muito boa, e onde se sente o "feed back" dos leitores e só é pena que muitos dos seus jornalistas ainda hoje não tenham de tal consciência, tomando isto como mais um incentivo para fazer mais e melhor. Como diz um amigo meu, os jornais têm muitos jornalistas mas são feitos diariamente por muito poucos. É um tema que deixo em aberto num momento em que se fala em crise na imprensa a propósito de um ataque de saudades provocado por uma mensagem do João Faria, leixonense e meu amigo. Fico a dever-te esta, "3".