CHAPEIROS

Sempre tive o privilégio de trabalhar "com" grandes repórter-fotográficos. O Paulo Santos, vencedor este ano do prémio CNID, é um deles. Posso dizer que vi o Paulo nascer para o fotojornalismo pois o seu primeiro trabalho foi feito comigo...no Leixões. As fotos que fez quase não se aproveitavam, uma delas era o Almeidinha, como vês ainda me lembro. Fui na minha "Boss" para o serviço. Lembro-me ainda daquele dia em que tivemos de fazer reportagem em Penafiel e um suplemento na Lixa. O pequeno Fiat do Paulo avariou e ele, desanimado, chorou sobre o capot. É bom começar assim, com sangue, suor e lágrimas. Hoje o Paulo é um guru. Fez por isso. Mas ao falar do Paulo não posso deixar de falar de outros grandes repórteres da imagem com quem trabalhei. Do Malacó, camarada e até pai, sempre bem informado, sempre disponível e quase nunca a falhava as fotos dos golos, que são as minhas preferidas, pois não gosto da imagem 2+1, ou seja, dois homens, uma bola e um fundo desfocado. Recordo também o velho Óscar Saraiva e toda a sua humanidade, apaixonado pelo ciclismo, descuidado com tudo o que lhe dizia respeito, entregando-se, por outro lado, por completo à causa. O Óscar já partiu bem assim como o Carlos Vidigal, um verdadeiro espalha-brasas. Também trabalhei com o Chamaco, "o brasileiro", sempre a queixar-se mas sempre a apresentar grandes boneco. Não muitos mas sempre grandes bonecos. E o Lobo Pimentel, esperto, dominando o jogo, sempre a trabalhar a 200 por cento. Ah, claro, havia ainda o Amílcar Teixeira, um verdadeiro pintas e o mais alfacinha de todos os alfacinhas que conheci. Claro, Ricardo, não me ia esquecer também de um júnior que era peixinho mas sabia nadar, nem daquela semana em Bordéus com o Toni, o Jesualdo e aqueles miúdos de que o Toni também gostava, o Zidane, o Dugarry e o Lizarazu... No «Correio», no «JN» e n'«A Bola» conheci outros "chapeiros" com quem dava gosto trabalhar mas se os outros não se importam vou destacar o Paulo Duarte, o "calmas" que não precisava que lhe dissessem nada para conseguir a melhor imagem, colocando no boneco toda a história da reportagem. No "Record" tenho também o prazer de trabalhar com uma equipa de craques. No tempo presente, uma boa imagem pode fazer a diferença entre o jornalismo impresso e o jornalismo electrónico ou aquele que se oferece no metro. Pena é que nem sempre se perceba que tem de ser assim. Ah, não me posso esquecer do Artur Ferreira. O mais fascinante de todos pela sua exuberância e pela forma como leva a vida - quando dei por mim estava a carregar-lhe o material pela escadaria de Montjuic, nos Jogos de 92... Diz-se que uma boa imagem vale por mil palavras mas é mentira. Uma boa imagem vale bem 2 mil palavras. No mínimo.