DO AUDIOVISUAL

No tempos do "gurus" do audiovisual - quase todos escondidos nas suas teses de doutoramento e na sua incompetência para darem a voz ao microfone e o corpo ao manifesto -, permitam-me uma incursão em terreno que não é o meu.
[da rádio]
Começando pela rádio, onde apenas se sente uma lufada de ar fresto: a Antena 1. É a única estação de rádio que, NO DESPORTO, está em todas. Para além de ter o melhor repórter da cena (Teófilo Fernando), tem um registo sóbrio nas notícias e exuberante nos relatos - o meio termo seria perfeito. Há por ali uns meninos com ares de vedeta mas também muita humildade e classe, como o demonstra todas as semanas o José Carlos Soares, um registo único, seja no relato (onde irá voltar), seja na reportagem. A Renascença continua certinha e certeira nas suas 'Bolas Brancas' mas perdeu gás ao abdicar das tardes desportivas. São opções editoriais e comerciais que se percebem mas que devem ser discutidas. A RR acabará por voltar ao antigo registo, estou certo, a não ser que se queira transformar, como outras, em estações gira-discos ou de pseudo notícias em directo. Quanto à TSF, é uma desilusão completa. Tirando o Carlos Vaz Marques, é uma rédio em declínio acentuado, com o desporto a sofrer na pele esta decadência. Sem Perestrelo, resta Fernando Correia. Conduto tem muita sarna para se coçar e a direcção se calhar está-se nas tintas para isso pois a "coisa" resolve-se com um fórum de manhã, outro à tarde e a inaudível Bancada Central à noite, antes de se ligar o piloto automático. Se era para fazer uma coisa assim, era dispensável o trabalho de uma tese ou de um manual de estilo... As outras rádios não existem no desporto, categoria para onde está prestes a entrar a TSF, para acompanhar a saudosa "Comercial".
[da televisão]
A RTP desistiu da informação desportiva como formato, vendendo o "Domingo Desportivo" à TVI, que o transformou num produto híbrido e quase impróprio para consumo. Não tenho contra o rapaz, mas o Sousa Martins apresenta o programa de que nem me lembro o nome como se nos estivesse a vender fogareiros na feira de Espinho e, mais grave, sem ter jeito para o ofício. Com o inevitável Coroado no painel, nem o Querido Manha consegue escapar à falta de ritmo e ao disparate completo do alinhamento do programa. Salvam-se os comentários, sempre sóbrios e directos, do Luís Sobral, e os relatos do Valdemar Duarte, a melhor voz portuguesa da rádio e da televisão. Na TVI continua, presumo, o "Contra-Ataque", mas já nada tem a ver com o formato original. Não passa de um tapa buraco.
Quanto à SIC, entregou à sua irmão dita de notícias o desporto programado, depois do sucesso ESTRONDOSO que foi o "Donas da Bola". Conseguiu produzir um programa ícone - 'Tempo Extra ' - e mantém um fórum que embora previsível por vezes ainda empolga, com Ferreira, Aguiar e Seara e uns pózinhos de reportagem pelo meio (o que só fica bem). Mas sabe a pouco. O programa diário de desporto, às 12.30, é jornalismo micro-ondas. De que serviu dar banho aos repórteres ou levarem-nos ao tapete no spot promocional? Sem investimento em pessoas e meios é difícil obrigar os portugueses, todos os dias, a picarem a Sic Notícias às 12.30.
A RTP tem uns joguinho e de vez em quando faz uma reportagem, como exemplo de tal foi o bom trabalho de Paulo Catarro sobre Pedro Pauleta. Ficou a RTP-n com um Trio que ataca pouco e mal - alguém será capaz de dizer ao Gabriel que não pode tocar bem sete instrumentos? - e tem na 'Liga dos Últimos' o exemplo do que deve ser um programa desportivo. Está de parabéns o Fernando Tavares, o produtor e um dos melhores e mais criativos jornalistas de rádio que conheci. A "Liga dos Últimos" é não só um programa 'kitch', é jornalismo puro e duro, sendo, porém, dispensável o habitual espaço dedicado aos tiques e maneirismos do Álvaro Costa. Mérito ainda para a RTP-N pelo esforço que revela no espaço desportivo que dá no jornal entre a meia-noite e a uma da manhã, quando a SIC Notícias já ligou o piloto automático.
A televisão especializada, a Sport-TV, tem como bandeira o famoso e aclamado "Repórter TV" mas como o tem devia ser obrigada a fazer mais e melhor nesta história. Não há gente nem meios? Eu percebo. Mas fala o consumidor... Com tantos jogos para transmitir, o mais difícil, compreendo, é pelo meio manter uma lógica de programação, mas podiam tentar, ò meus? O que importa é que temos um canal, ou dois, dedicado ao desporto e este tem audiências e futuro. É um progresso num meio nivelado um pouco por baixo, sobretudo quando se descobrem "talentos" na CNN.