DIÁRIO DE HEERENVEEN

Volto à Holanda, desta vez para acompanhar o Sp. Braga, equipa que, julgo, rebuscando nas minhas já velhas memórias, um dia segui até à Letónia, a Liepaja, uma cidade metarlúrgica junto ao Mar do Norte, da qual regressamos com uma paragem simbólica em Lourdes (França). Não sei como está hoje a Letónia, e as letónias, o que sei é que a Holanda continua igual a si mesma. Aterrando em Schipol mais uma vez, reparo nas torres eólicas que estão implantadas em pleno mar, vá-se lá saber se para aproveitar a energia do vento, se usar esta para drenar ainda mais o Mar do Norte e conquistar mais um pedaço de “freeland”. Volante nas mãos, GPS a funcionar, entro serenamente na rede de auto-estradas na direcção a Heerenven, a cidade dos quatro “és”, diz-me a melílufla voz a 130 quilómetros de distância. Enquanto a luz diurna se fina, páro numa área de serviço e entro no restaurante com vistas para um grande lençol de água. Lareiras a funcionar, atendimento caloroso, já passou a hora normal do almoço mas servem-me um peito de frango com batatas fritas e muitos legumes. Bebo um sumo de laranja e completo com um café e fico por ali a apanhar os últimos raios de Sol, lamentando não ter percebido que havia 4 panelões de sopa à disposição. Reentro no fluído quase contínuo de trânsito e rumo ao destino. Chego ao Abe Lenstra, o estádio do Heerenveen, já noite e pergunto pelo treino do Braga. “Pela esquerda”, diz-me a menina loura. Lá vou, de mochila às costas, e quando reparo estou a entrar num ginásio. Percebi. Ela achou que eu perguntei onde é que podia treinar... Era do outro lado do grande complexo desportivo que tem anexos escritórios de advogadose outros. Espero uma hora pela chegada do Braga e, na confusão de tentar encontrar rede, deixo o computador deslizar pelo capot do Opel. Catrapum! Temos danos maiores mas a “coisa” funciona, apesar de uma rachadela na zona do ecrã. É no que dá quando queremos fazer várias coisas ao mesmo tempo: telefonar, ligar a internet e fumar o cigarrito da ordem. Já no quentinho da sala de Imprensa, reencontro o António Esteves Martins, sem eléctrico, sempre a correr a Europa, sempre simpático e com histórias para contar. Pena nunca haver muito tempo para a conversa. Fala Jesus do “Heverin”, fala Peixoto de como gosta de Jesus, segue-se o treino, 15 minutos apenas para ver. Primeira página enviada, o resto fica para o hotel pois o guarda do estádio quer ir para casa. GPS de novo a funcionar, hotel a 20 quilómetros. Lá está ele. Com a breca! A estrada só tem uma faixa, por causa de obras, e não consigo entrar para o hotel. O meu holandês continua bastante deficiente e dou voltas e mais voltas sempre com o hotel à vista. Desisto e acabo a arrumar uns mecos e uns sinais, passando pelo buraco da agulha até ao estacionamento. O hotel é um aparthotel, reparo no dia seguinte que é uma espécie de clínica para velhinhos. Tomo o pequeno almoço no meio de andarilhos. Volto ao quarto, tomo um banho quente, fumo mais um cigarro na varanda (rapidamente pois o termómetro aperta) e eis-me aqui de novo com o meu velho portátil que leva da Holanda uma recordação, pronto para seguir até ao centro de Walvega, onde detectei já a presença de um café de cheiros e um restaurante italiano, onde ontem tentei jantar mas não consegui, acabando a fornecer-me numa estação de serviço onde o funcionário estava protegido por uma câmara de vidro à prova de bala. Que é o que o Sp. Braga provavelmente precisará para se proteger do previsível ímpeto do Heerenveen, daqui a nada.