PEQUIM COM POUCO PORTUGAL


Ao contrário do que sucede com muitos portugueses, para mim desporto não é só futebol. Longe disso. Logo, gosto muito dos Jogos Olímpicos, da sua atmosfera peculiar, da rivalidade entre as grandes potências, da adrenalina existente aquando dos principais duelos. E gosto mais ainda quando tenho a oportunidade de ver atletas portugueses a conseguir feitos digno de registo. E, para que conste, resultados de qualidade não são apenas aqueles que permitem arrebatar medalhas. Para muitos desportistas, melhorar as suas marcas ou estabelecer novos máximos nacionais equivale a ouro. Logo, quem pensava que os portugueses iam para a longínqua, cinzenta e misteriosa Pequim coleccionar troféus, precisa de entender que o nosso País, para além de pequeno e com diminuta base de recrutamento, não é – infelizmente – uma potência internacional. Conseguir competir com os melhores já não é nada mau, tendo em conta a nossa realidade que, diga-se sem rodeios, é pouco europeia em determinadas situações...Mas, independentemente de ter perfeita consciência de que a maioria da Missão lusa não tinha (ou não tem) capacidade para brigar pelos postos cimeiros, nem por isso posso ignorar que, ao cabo de quatro dias de competição, o desempenho nacional é fraquinho. Sei que ainda é cedo para balanços definitivos, que ainda temos alguns “trunfos” para apresentar ao Mundo mas, efectivamente, aquilo que já se viu... sabe a pouco. Quase apetece dizer para os chineses interromperem o certame e começar tudo de novo. Por outro lado, começa a ser preocupante a histórica tendência dos atletas portugueses para acusar a pressão no momento da verdade. Quem já subiu ao pódio em Europeus e Mundiais, quem está bem posicionado nos mais variados “rankings” internacionais, quem tem enorme tarimba, não devia chegar aos Jogos Olímpicos e ficar a léguas de distância do seu rendimento normal. E se ainda fossem só um ou dois atletas a “escorregar”, o assunto até passava despercebido mas, até à data, já se viram muitos “filmes” idênticos. No judo, por exemplo, acabou por ser o nome menos sonante (Ana Hormigo) a conseguir a melhor posição, enquanto no tiro foi tudo muito mau e Joaquim Videira, na esgrima, também ficou longe das previsões.Curiosamente, tem sido a equipa de natação e os “desconhecidos” do remo quem mais tem surpreendido pela positiva. Cá está o caso de atletas que, todos sabemos, não possuem potencial para pensar em medalhas, mas que se entregam de corpo e alma no sentido de, pelo menos, atingir o seu melhor patamar de sempre. E é só isso que o País pede: superação!Bom, embora admita que o meu optimismo já foi maior, quero continuar a acreditar que a prometida melhor prestação de sempre ainda vai ocorrer. Mas, para isso ser possível, os velejadores têm de estabilizar na frente, Vanessa tem de ser a Vanessa de há uns meses, Naide e Nelson precisam de “voar” e, aqui e ali, terá de aparecer um “joker” para animar as hostes.

LUÍS AVELÃS

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