O MAJOR VALENTÃO


Depois a famosa biografia de Felícia Cabrita publicada no "Expresso", o relatório social feito pelo Tribunal de Gondomar a propósito de Valentim Loureiro dá-nos deles outro grande retrato:
O arguido Valentim dos Santos de Loureiro, no âmbito do processo comum singular nº 1718/99.4PSPRT, da 3ª secção do 3º juízo criminal do Porto, por decisão transitada em julgado a 04 de Setembro de 2006, pela prática, a 04 de Outubro de 1999, de 2 crimes de injúrias, cada um previsto pelos artigos 181º e 184º, ambos do Código Penal, foi condenado na pena única de 130 dias de multa, que cumpriu. Os primeiros anos de vida do arguido Valentim dos Santos de Loureiro decorreram numa aldeia localizada a poucos quilómetros de Viseu, no seio de uma família numerosa (os progenitores e 8 filhos). O agregado familiar, liderado pela figura paterna, pessoa descrita como possuindo fortes convicções e valores de vida normativos, desenvolvia um relacionamento coeso, dispondo de uma situação económica avaliada como mais favorável comparativamente com os outros habitantes da aldeia, sendo um pequeno comerciante local. O percurso escolar do arguido Valentim dos Santos de Loureiro, iniciado na escola primária da aldeia, registou sempre elevado sucesso, a que não foi alheio o estímulo e a motivação incutida pelo progenitor a todos os descendentes. Para prosseguir nos estudos teve necessidade de se deslocar para outras localidades, onde viviam elementos da família alargada, primeiro para Viseu, aos 10 anos de idade, onde concluiu o Curso Comercial na então designada Escola Comercial e Industrial, e depois para o Porto, onde concluiu o 2º ano do Curso de Contabilidade do Instituto Comercial. Não obstante as dificuldades por que passou em termos económicos e de isolamento afectivo familiar, revelou facilidade de adaptação aos novos contextos. O mesmo sucesso continuou a registar quando da frequência do Curso Superior da Administração Militar da Academia Militar em Lisboa, concluindo-o no ano lectivo de 58/59, aos 21 anos. Chegou também a frequentar algumas cadeiras do Curso de Direito na Faculdade de Direito em Coimbra. A sua integração no activo da vida militar, como oficial de exército, foi adiada por motivos de doença pulmonar, tuberculose, tendo estado em tratamento num dos sanatórios do Caramulo, durante dois anos. Em 1963, e já recuperado em termos de saúde, ofereceu-se como voluntário para Angola, onde cumpriu duas comissões de serviço, num total de quatro anos, período em que foi promovido ao posto de capitão. Ao longo das duas comissões foi acompanhado pelo agregado familiar entretanto já constituído, primeiro a mulher e o filho mais velho e posteriormente pelos outros três filhos. Durante a última comissão de serviço, em 1967, e assumindo funções como responsável pela manutenção militar, foi demitido de oficial do exército por alegado indevido relacionamento negocial com um comerciante de batata. Esta situação veio a ser alterada, após seu pedido de revisão do processo de expulsão ocorrido a seguir a Abril de 1974, vindo a ser reintegrado em 1980 e promovido ao posto de major. Contudo, requereu de imediato a passagem à reserva. Novamente a viver no Porto, dedicou-se à actividade empresarial, no sector comercial de electrodomésticos, actividade já desenvolvida pela família de origem da mulher. Revelando empreendedorismo, o arguido conseguiu desenvolver e fazer prosperar esta actividade comercial chegando a dominar o maior grupo do ramo. Paralelamente diversificou os investimentos e tornou-se sócio de várias empresas comerciais e industriais. Com o êxito nos negócios, foi convidado a integrar os órgãos directivos do Boavista Futebol Clube. Assim, de 1968 a 1997 exerceu quase ininterruptamente cargos na direcção, granjeando o clube vários títulos desportivos relevantes, a que, na percepção do próprio e dos que lhe estão mais próximos, se deveu ao estilo de liderança por si imprimido. Ao nível desportivo foi também sócio fundador da Associação Nacional de Clubes, participando igualmente na fundação da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, onde ocupou, durante vários anos, o lugar de Presidente. Ao nível político, o arguido Valentim dos Santos de Loureiro assumiu igual protagonismo, ao envolver-se e ao dinamizar, após o 25 de Abril de 1974, movimentos e partidos políticos. Exerceu ainda o cargo de Cônsul Honorário da Guiné-Bissau no Porto, de 1982 até 1999, lugar que adveio de uma deslocação àquele país com o Boavista Futebol Clube e do subsequente apoio a cidadãos guineenses imigrantes em Portugal. Este cargo granjeou-lhe reconhecimento por parte daqueles cidadãos que procuravam em Portugal novas condições e oportunidades de vida. Em 1993 foi eleito Presidente da Câmara Municipal de Gondomar pelo Partido Social-Democrata. A actividade do arguido no foro político, estendeu-se ainda à Junta Metropolitana do Porto, ao Conselho Nacional de Municípios Portugueses e à empresa “Metro do Porto”. Desde há cerca de vinte anos que Valentim Loureiro reside na mesma morada, conjuntamente com o agregado familiar constituído, integrado regularmente por mais dois filhos, fruto de um relacionamento extraconjugal que manteve. O arguido Valentim dos Santos de Loureiro vive numa moradia localizada numa zona caracterizada pela existência de um ambiente tranquilo e discreto na esfera das relações de vizinhança. Coabita actualmente só com a sua mulher, uma vez que todos os filhos se encontram autonomizados e com família constituída. O arguido Valentim dos Santos de Loureiro valoriza a coesão e estabilidade familiar, promovendo a proximidade relacional, num ambiente considerado de total partilha e transparência. É assim que toda a família, contando hoje com mais de vinte elementos, se encontra uma vez por semana em sua casa. À data dos factos constantes no processo judicial, o arguido Valentim dos Santos de Loureiro detinha uma posição sócio-económica elevada e projecção pública, associada ao mundo empresarial, do desporto e da política, pela assunção de cargos de direcção em diversos organismos, como a presidência da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, a presidência da empresa “Metro do Porto”, a presidência da Junta Metropolitana do Porto, assim como a presidência da Câmara Municipal de Gondomar. Não obstante o arguido Valentim dos Santos de Loureiro se manter ainda presentemente vinculado a praticamente todos os organismos, é na gestão da Câmara Municipal de Gondomar, para a qual foi reeleito em 2005 como independente, que despende a maior parte do seu tempo. A administração das diferentes empresas comerciais e industriais que possui, e que lhe permitem desfrutar de uma situação económica privilegiada, encontra-se quase em exclusivo entregue a alguns filhos, em quem deposita total confiança. A mesma confiança é depositada na sua filha, que exerce funções de vereadora na Câmara Municipal de Gondomar. O arguido Valentim dos Santos de Loureiro avalia que o seu trajecto de vida de sucesso, com o exercício de um tão elevado número de cargos, não raras vezes em simultâneo, se encontra associado à entrega total e exclusiva ao trabalho, a um espírito prático e realista da vida e de ser detentor de elevada capacidade de iniciativa. O arguido Valentim dos Santos de Loureiro reflecte uma auto-estima elevada, associada a um sentimento de auto eficácia também elevado. No confronto com os outros, ou em situações de stress, projecta uma postura agressiva/confrontativa, causadora de reacções de animosidade, a que o próprio atribui a características pessoais. Paralelamente, o arguido Valentim dos Santos de Loureiro detém reconhecimento social e uma imagem popular, que lhe advém da atitude afável e acessível às camadas sociais mais humildes, particularmente no município a que preside, onde lhe é reconhecido pendor social na gestão autárquica. O arguido Valentim dos Santos de Loureiro apresenta elevadas competências pessoais e sociais, facilitadoras, por exemplo, de funções de liderança e de adaptação a novas e diferentes experiências e/ou realidades. Da análise da sua história de vida ressalta uma projecção pessoal de sucesso que se revela inicialmente na área dos negócios e no mundo do desporto e que se vem a consolidar ao nível político, tornando-se uma pessoa detentora de uma imagem pública associada à detenção e exercício de poder. Esta realidade, aliada às características pessoais supra referenciadas, é vivenciada pelo próprio com distanciamento dos mecanismos de controlo social.
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