O MONSENHOR


Eduardo de Melo Peixoto é natural da freguesia de S. Lázaro, em Braga, e completa 80 anos no próximo dia 30 de Outubro. Admirador da obra de Salazar, anti-comunista assumido, sobretudo nos tempos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, este ilustre bracarense está em todas quando a questão é a vida da sociedade bracarense. Eminência respeitada também nos bastidores do futebol, foi feito comendador por Mário Soares e já serviu sob três bispos e seis Papas. É um clérigo sem papas na língua que um dia até defendeu o uso de preservativo, “em determinadas circunstâncias”, porém. Dele se dizia também que benzia bombas e que usava pistola nos conturbados tempos do PREC. O hoje Monsenhor Melo apenas admite que é um bom atirador. Esta conversa decorreu em meados de Julho mas continua actual e por isso aqui fica.






– Qual é a sua expectativa em relação a esta época do Sp. Braga?
EDUARDO MELO – Sabe que toda a gente vive da esperança e que a esperança é o futuro. E o melhor que há, quanto ao futuro, é pensar no passado com os pés bem assentes no presente. Os responsáveis têm tudo bem pensado e orientado. Há sempre percalços mas julgo que está tudo bem estruturado, conforme diz o presidente.
– O Sp. Braga vem de uma boa sequência de resultados nas últimas épocas, subindo sempre a fasquia…
EDUARDO MELO – É verdade. Quando as pessoas param e pensam tudo corre melhor. Porque não se pode pensar a correr e no futebol tal é difícil pois é um desporto que envolve muita…corrida…saltos…
– Como classifica a gestão de António Salvador?
EDUARDO MELO – Muito boa, desde o princípio. Gerir é difícil. Girar é fácil, gerir é difícil. Não é qualquer pessoa. Salvador gere e não gira, pára e pensa.
– Cada vez se fala mais na possibilidade de o Sp. Braga correr pelo título nacional. É algo com que pode sonhar?
EDUARDO MELO – Hoje toda a gente pensa no título. S. Paulo tem um diálogo muito interessante na sua epístola: “Já reparaste que todos correm mas só um recebe a coroa de louros?” Mas todos correm.
– O Sp. Braga tem estrutura e massa crítica para ser um sério candidato ao título?
EDUARDO MELO – Há pessoas que são pessimistas mas julgo que devemos ser optimistas. Temos de sacudir o pessimismo, embora com os pés sempre bem assentes na terra. Temos de estar na varanda e ver, sendo realistas e optimistas.
– O estádio agora tem o nome de uma companhia de seguros. Isso não o choca?
EDUARDO MELO – A relva não deixa de ser relva e o cimento não deixa de ser cimento. O clube lucra com isso. Por exemplo, Alvalade XXI amanhã vai ser Alvalade XXII. São coisas momentâneas. Hoje vestimos um fato, amanhã outro. Por isso, não vejo nisso um grande problema.
– Acompanha com muito fervor o Sp. Braga?
EDUARDO MELO – No ano passado, só vi um jogo, em Verona. Tenho trabalhos.
– Mas não gosta de futebol?
EDUARDO MELO – Gosto. Mas primeiro lugar está o dever, em segundo a obrigação e em terceiro a devoção. E como eu não vou jogar…nem sou treinador…sempre que posso vir, venho. Mas pago as quotas e pago a cadeira! Sou o sócio cento e poucos, era o 161.
– Como está o futebol português?
EDUARDO MELO – Pela amostra que vamos tendo, há coisas que não estão bem. Mas não é o futebol. Quem faz os ambientes são as pessoas, o mundo somos nós. Este é um mundo belo mas nós damos cabo das florestas com os incêndios, poluímos os rios. O futebol, sendo um desporto como outro qualquer, é feito pelos homens. É como um fato. Um alfaiate pode ser muito bom mas se o corpo do cliente foi desajeitado, nada feito. Recordo-me que já fui presidente do Sp. Braga…






'Quando fui presidente do Sp. Braga tínhamos reuniões diárias, às 17 horas, e pontuais, acabando sempre às 19.30 horas porque eu tinha missa. Na sala ninguém fumava e só se bebia água'




– E como foi a experiência?
EDUARDO MELO – Calhou. Estava em Lourdes e quando cheguei a Portugal tinha sido eleito presidente do clube. Fiquei pasmado mas teve de ser. A experiência, essa, foi boa. Foi ditatorial!
- ????
EDUARDO MELO – Tínhamos reuniões diárias, às 17 horas, e pontuais, acabando sempre às 19.30 horas porque eu tinha missa. Na sala ninguém fumava e só se bebia água (as garrafas de whisky que lá havia acabaram). Não havia borlas para ninguém. Quem tratava do futebol era o António Duarte. Eu só coordenava. Perfeito, foi perfeito.
– Quem era o treinador?
EDUARDO MELO – Tivemos um percalço grande quando o António Oliveira saiu e depois o António Duarte foi buscar o professor Neca para acabar a época, tendo conseguido a permanência. E depois tivemos o Cajuda. O Jaime Pacheco era jogador e foi para o Paços de Ferreira, tendo sido muito correcto connosco. É importante que nos sintamos como homens mesmo quando não estamos de acordo.
– Como vê a violência que se tem associado ao futebol através das claques organizadas?
EDUARDO MELO – Mal, mal, mal. Quando apareceu a nossa claque, disse ao presidente Salvador e ao Mesquita Machado que tinham de tomar uma atitude. Nada tenho contra as claques porque há claques em todos os sectores, no desporto e na política, por exemplo. O entusiasmo é bom mas quando se passa para o insulto. Mas os exemplos também têm de vir de cima porque quando o pai e a mãe não se dão bem, os filhos também não se sentem obrigados a ter um bom comportamento.