O que diz Mourinho

O depoimento de Mourinho no congresso sobre arbitragem, o sublinhado é meu.
«A grande questão do momento em Portugal é: profissionalismo ou não na arbitragem? A questão que eu faço é óbvia: em que futebol é que nós estamos? Num futebol altamente profissional. Se o é, se é feito por jogadores, treinadores e árbitros, não vejo que possa ser de outra maneira... Todos temos responsabilidades diferentes mas iguais, temos todos de estar num alto nível de rendimento. Não preconizo um futebol de alto rendimento com jogadores profissionais, treinadores profissionais e árbitros amadores. Sou um crítico dos árbitros mas sou também um grande defensor das melhores condições para que eles tenham um rendimento elevado. Futebol é paixão e até é mais do que uma paixão - é uma indústria que gera somas astronómicas de dinheiro e onde as responsabilidades são enormes para todos. Por isso, as condições que se oferecem a todos os protagonistas têm de ser as melhores! Por isso é que sou um defensor da profissionalização dos árbitros. Há grandes diferenças entre o profissionalismo e o amadorismo. Se os jogadores têm de treinar muito bem, os árbitros também. Se somos amadores, e até eu já fui treinador amador e sei perfeitamente a diferença, é diferente. Tanto a responsabilidade como a disponibilidade. Presumo que haja árbitros e treinadores amadores mas o futebol evoluiu de maneira extraordinária. Ainda há pouco tempo me ria ao ver na RTP Memória jogos da década de 80 e 90, parecia que se jogava a passo. Hoje em dia o futebol joga-se a 200 à hora, com transições dramáticas para jogadores de primeiro nível, podemos imaginar que para os árbitros também. Os árbitros não podem trabalhar e no final do dia treinar, precisam de condições para treinar. E os árbitros não podem treinar a correr à volta de um campo ao lusco-fusco, devem treinar, como os jogadores, em situações de jogo. Os árbitros podem também ter "olheiros" para analisar as equipas que vão apitar pois a análise táctica dessas mesmas equipas permite-lhes ter mais uma ferramenta, permite-lhes ver quem é o jogador que é simulador, quem é o jogador que agarra as camisolas dos outros. E depois há outro aspecto dramático, que também eu vivi enquanto treinador amador e recém-casado: a família. Sair de casa de manhã bem cedo e voltar quando os filhos já estão a dormir não é bom para ninguém. Não me parece que o futebol possa pagar aos árbitros como paga aos jogadores e treinadores de primeiro nível, mas é obrigatório que a organização tenha condições para poder pagar quantias importantes aos árvitros, para que estes possam ser cada vez mais capazes e também resistir ao poder de certos lobbies. Aos árbitros, num mundo profissional, acontecerá o que acontece no mundo dos treinadores e dos jogadores. Os bons atingem o patamar superior e por lá ficam eternamente. Quantos treinadores estão neste momento desempregados no futebol português? Para os bons há sempre espaço, para os menos bons não... Também não concordo com o actual limite de idades (45 anos) para os árbitros. Não percebo como é que o Collina teve de acabar a sua carreira. Um árbitro pode começar a sua carreira ao mais alto nível aos vinte e tantos anos e terminá-la com 50 e mais alguns, o que será também muito importante para a sua estabilidade financeira."