Jornais 2007


2007 será mais um ano de grandes desafios para o jornalismo português em papel. Confirmada que está a queda de leitores, vamos esquecer as folhas de couve que se distribuem no metro e concentremo-nos no caminho que os jornais a sério devem percorrer para pelo menos pararem a queda. Está visto - a SIC é exemplo disso e os jornais desportivos com vendas auditadas também - que nem um Mundial de futebol com Portugal em grande ajuda. O que fazer, então? Para já, o Público anuncia uma refundação e em Fevereiro apresentar-se-á com uma cara lavada mas sem alguns dos seus melhores jornalistas, entretanto dispensados em nome da contenção de custos (de que é exemplo maior Rui Baptista). O "Público" tem uma excelente redacção e leitores fiéis mas está a mais de 60 mil jornais/dia de distância do "Correio da Manhã". As capas de hoje ajudam a explicar a decálage. Enquanto o "Público" abre com uma foto sobre os civis mortos no Iraque no ano que já lá vai, o "CM" edita uma foto à antiga portuguesa, e magnífica, dos funerais dos pescadores das Caxinas que morreram afogados no mar da Nazaré. Fica quase tudo dito sobre este assunto. A verdade é que o "CM" é o único jornal português que não copia ninguém e que se mantém fiel à sua matriz popular, imprimida por Vítor Direito e a sua pequena equipa nos tempos gloriosos da cave da Rua Rubens Leitão (onde tive a honra de trabalhar, embora no 3.º ou 4.º piso, já não me recordo). O JN procura ser um Público na sua versão popular, o DN é aquilo que os grafismo determina e não a força das notícias e reportagens, o "24" perdeu claramente desde que o "Big Brother" acabou e nem as surtidas de Filipe Vieira parecem resultar e o "Público" agora vai tentar imitar o "The Guardian". De remodelação gráfica em remodelação gráfica, todos se vão atrasando para o único jornal que no fundo tem hoje a primeira página que tinha em 1984, com alguns retoques modernos, obviamente. Olhar para o que fez e para o que faz o CM será provavelmente a melhor receita para os jornais que estão em perda. E falo também dos desportivos e do excelente suplemento de desporto do CM aos sábados, a fazer-me lembrar o suplemento diário do CM em 88/89, quando Vítor Direito acordou e decidiu que tínhamos de fazer 16 páginas todos os dias a cores e ao vivo.