QUEM PODE FODE OU QUEM FODE PODE?



Esteve 30 anos no poder. O poder vicia. Entra rapidamente na circulação sanguínea, entranha-se nas hormonas e harmoniza as entranhas, quando reparamos já ele nos deu a volta e, mesmo passando pelos rins e pelo fígado, não é purgado, mantém-se vivo, actuante, penetrante, avassalador quando passa pelo cérebro e nele atinge aquelas regiões obscuras e complexas que definem o nosso eu. O poder por norma transforma presidentes de clubes e primeiros-ministros em ditadores. Por exemplo, só a febre do poder explica que José Sócrates defina como objectivo mandar avançar os buldozer e os caterpillers contra as casas de 1.500 cidadãos que as fizeram com o fruto do seu trabalho nas ilhotas da Ria Formosa (Algarve) e não seguras com governantes deste calibre, que põem os melros e as cegonhas à frente da vida das pessoas. Deixem estar o que está construído, custou a fazer e a ganhar, o parque da ria Formosa é imenso, dá para todos, para as pessoas, para os sapos e para os ecologistas. Mas adiante que o problema é crónico e tanto aparece num estádio de futebol como num sapal ou numa corveta da marinha. Portugal precisa de alma, com estes artistas não vai lá. Bem melhor está o futebol. Com poder e poderosos mas previsível e analgésico. Só aqui na época do defeso é permitida a pescaria. E ninguém sabe nem quer saber o que é um cordão dunar.