Recados de Cajuda



Como sempre, Manuel Cajuda deixa o melhor para o fim. Na segunda e última parte da entrevista à página oficial do Vitória de Guimarães foi igual a si próprio – polémico, directo e... indirecto. Ah, e foi polémico, também. Como diria Luís Freitas Lobo, uma entrevista para ler de trás para a frente, nas entrelinhas, e com os olhos colados à referência ofensiva.

RECADO À DRAGONADA:
“A mim não me incomoda nada ter perdido a solidariedade de um clube e ter ganho a de outro, porque não preciso dela para nada, nunca precisei e como treinador do Vitória a única solidariedade que preciso é a que me é dada todos os dias pela minha direcção. Acho interessante é que os clubes designados grandes andem atrás da solidariedade de outros clubes e que andem a correr de um lado para outro só para aparecerem na fotografia. Isso é que eu acho engraçado, mas se calhar, neste país, toda a gente acha isso normal. O Vitória para ficar no seu lugar, entre os primeiros lugares do campeonato, não precisa de ninguém a não ser dos seus adeptos, dos seus dirigentes e dos seus jogadores”.

RECADO AOS LAMPIÕES:
“Este clube é, de facto, muito grande. Ao ponto de outros clubes se encostarem a nós, porque sentem que a nossa grandeza lhes pode ser útil. Mas atenção, que o Vitória é grande sozinho, não precisa de companhias deste ou daquele para ser grande. Nunca precisou, em 86 anos de história. Não precisa de alianças, de amigos nem de inimigos. E eu sei que a direcção pensa o mesmo. Esta direcção move-se pelos interesses do clube e se, numa dada altura eles são coincidentes com outros clubes, pois bem, há um trabalho conjunto a fazer.”

RECADO AO GRANDE RIVAL REGIONAL. PS: NÃO É O MERELINENSE:
“O Vitória não perde identidade nestas ocasiões como outros clubes que se agarram a estas alianças para poderem aparecer um bocadinho. Lamentavelmente para esses clubes esta grandeza do Vitória conquista-se, não se compra, por isso é que há outros clubes que até gostariam de jogar no nosso estádio para terem um ambiente como o nosso. Mas não têm, porque a relação dos adeptos com o clube não se explica, nem se exporta. É uma coisa que se sente, que deve ter uma explicação sociológica e que não merece a pena ser copiada, porque será sempre uma tentativa falhada.”

RECADO A CERTOS SENHORES DE APITO NA BOCA E QUE NÃO SÃO POLÍCIAS SINALEIROS
“O conhecimento que tenho do futebol português e porque toda a gente me diz que esta época o Vitória deve preparar-se para ser o bombo da festa dos árbitros. Eu sinceramente não percebo porquê, ou se calhar percebo mas até tenho vergonha de perceber, se calhar percebo mas nem quero acreditar que isso possa acontecer. Logo no primeiro jogo e num jogo só, já fomos prejudicados de uma forma grave. Dois “penalties” que não assinalaram contra o Basileia. Bastava que tivessem sido assinalados e convertidos e vejam o conforto que isso nos daria para o jogo da segunda mão. Faz ou não diferença na eliminatória, é o que vamos ver. Nós vamos tentar que não faça. Mas depois de ver o jogo de Guimarães, acho que os treinadores portugueses deviam ter vergonha de falar tanto dos árbitros portugueses. Lá fora a porcaria é a mesma.”

RECADO PARA FORA DO CASTELO:
“Recordo que na época passada, no campeonato, começámos com três empates e todos diziam que não ganhávamos a ninguém. Esta época está a passar-se o mesmo. Alguns maus resultados na pré-epoca e um empate com o Basileia e já é suficiente para os doutores do futebol se intranquilizarem? Tenham calma, que eu também tenho. A equipa é boa, é melhor do que a do ano passado e tem um potencial tremendo”.

RECADO PARA DENTRO DO CASTELO:
“As pessoas dizem-me que se não passarmos a eliminatória da Champions League é uma frustração. Pois se acontecer, que seja. Seria uma frustração bonita. Em 86 anos de existência nunca tiveram uma frustração igual a esta. O Vitória não pára aí, se for eliminado. Mas o Vitória não vai ser eliminado”.

RECADO AOS FIÉIS ESCUDEIROS:
“Em primeiro lugar devo dizer que os adeptos do Vitória são únicos, são uma coisa fantástica. São fiéis ao clube, têm amor eterno ao clube, aquele grito de “Vitória até morrer”, eu sei que é verdade para 95 por cento dos adeptos do Vitória. Os assobios (ao Moreno) têm sido injustos. O Moreno tem sido um dos melhores jogadores da equipa, neste início de época e o Moreno gosta mais do Vitória de Guimarães do que a maioria das pessoas que o assobiam. A pressão de ser vitoriano tem condicionado o Moreno e eu, um dia, vou acabar com ela”.

RECADO “ÀQUELES GAJOS QUE ESCREVEM EM JORNAIS E QUE DIZEM CERTAS E DETERMINADAS COISAS NAS RÁDIOS E TELEVISÕES”:
“Para a comunicação social só existam três grandes. Que hipocrisia, escrevem sempre que o futebol português não cresce com esta macrocefalia, mas depois são eles que não deixam os outros crescer. Mas quer queiram ou não, o Vitória é um grande. O futebol português só tinha a ganhar se o nosso campeonato, em vez de ter três grandes, tivesse quatro, cinco, seis, sete grandes.”