A NOVELA RONALDO


Enquanto aguardo, ansiosamente, pelo arranque do Europeu onde espero ver uma talentosa equipa lusitana a jogar com o objectivo assumido de lutar pelo triunfo na prova (tal como Scolari prometeu ainda antes da fase de qualificação), confesso estar cansado da última novela criada em torno de Cristiano Ronaldo. E por mais que tente perceber quem está a desempenhar o principal (e mais criticável) papel em toda esta situação, continuo com muitas dúvidas. Demasiadas...Considero perfeitamente normal que o Real Madrid gostasse de ter nas suas fileiras o madeirense. Aliás, o mesmo desejo deve ter o Barcelona, o Milan, o Chelsea, o meu simpático Atlético ou o mais humilde conjunto distrital de Portugal. Nenhum clube, presidente ou treinador desdenharia contar com os préstimos do melhor jogador mundial. O problema é que entre o querer e o poder vai enorme distância. O rapaz não pode alinhar todas as semanas por emblemas diferentes. E talvez só meia dúzia de colossos tenham condições para contratá-lo e, de seguida, pagar o que ele exige e merece.É óbvio que o Real Madrid faz parte do restrito lote de clubes mundiais com poderio para recrutar Ronaldo. Mas, será que os espanhóis não podiam, pura e simplesmente, abordar os responsáveis do Manchester United e fazer uma proposta? Devia ser assim, mas pelos vistos não é. Os merengues andam há vários dias a criar um cenário inacreditável, utilizando todos os meios ao seu dispor, nomeadamente as declarações dos seus funcionários (técnicos e jogadores), para pressionar o United, o futebolista e o seu empresário. E a estratégia tem sido mais eficiente devido à estreita colaboração da imprensa amiga que, imagine-se, até já se deu ao luxo de publicar a fotografia de um automóvel de grande cilindrada onde se podia ler “entregar a Cristiano Ronaldo”.Mas, os dirigentes do Real não são os únicos com “culpas no cartório”. Ronaldo, que devia estar apenas empenhado em conseguir jogar nos relvados da Suíça e da Áustria algo parecido com o que fez toda a temporada ao servico dos “red devils”, tem tido uma postura estranha em relação ao processo. Ora dá entrevistas a dizer que se sente bem no United e que continuará em Manchester como, em plena conferência de imprensa, afirma que a situação ficará resolvida no espaço de algumas semanas. Não entendo! Se tem contrato e quer permanecer, o que será preciso resolver nos próximos dias?Ronaldo tem tanta legitimidade em querer mudar de ares quanto o Real para avançar para a respectiva contratação. No entanto, creio que este processo está muito confuso desde o início, embora me pareca que o United tem “a faca e o queijo na mão”. Se o Manchester tem o melhor jogador do Mundo, se o futebolista rende (e de que maneira), se o contrato entre ambas as partes está em vigor e se os ingleses não precisam de dinheiro... só se estiverem parvos e que aceitarão ouvir a proposta espanhola, ainda por cima depois dos merengues terem começado o “filme” ao contrário.Só para terminar – e sabendo que há muita gente disponível para dar bons conselhos ao jogador, a começar pelo empresário Jorge Mendes -, gostava de acrescentar que Ronaldo poderá estar a cometer um grande erro se, efectivamente, pensa em ir para Madrid. Sem colocar em causa o valor institucional do Real, o português deve ter presente que em Manchester é rei e senhor. Joga e faz jogar, ganha prémios individuais e colectivos e é estimado por todos. Valerá a pena ir tentar outra coisa? Se não saiu quando era apelidado de “fiteiro” e assobiado em todos os campos, e agora que deve partir? Não me parece. Mas, para ser sincero, quero é que ele jogue bem no Europeu. Depois, em Inglaterra ou Espanha, é com ele...

LUÍS AVELÃS