
É sabido que o ciclismo tem sido o desporto em que mais casos de doping têm surgido. Por causa disso, o próprio Tour de France tem sido abalado na sua credibilidade, enquanto que grandes figuras do pelotão foram apanhadas na teia de vários escândalos, que tiveram o seu epicentro em Espanha, com a Operação Puerto.
Por causa de tais escândalos, houve troféus que foram retirados, houve equipas que foram punidas e proibidas de participarem nas grandes provas internacionais.
Também sei que, por causa do doping, houve ciclistas que se retiraram muito cedo da modalidade, uma vez que os seus órgãos vitais começavam a ceder.
E também me recordo que, quando era praticante da modalidade, embora dos escalões mais jovens, já as suspeitas sobre alguns eram mais do que muitas, o que foi um dos motivos que me levaram a abandonar o ciclismo. Depois disso, limitei-me a escutar histórias que me iam contando alguns atletas que, por um outro motivo, contactaram comigo profissionalmente, sobretudo quando me pediram para formalizar a constituição da Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais, a cuja Assembleia Geral cheguei a presidir.
Há, por isso, todos os motivos para fazer uma luta sem tréguas contra o doping no ciclismo. E, com efeito, o facto de tantos casos terem surgido nos últimos anos significa que essa guerra tem sido feita.
Mas não acho bem que tais episódios sirvam para que alguns tratem tão mal a modalidade e falem em fraude generalizada. O ciclismo - apesar de mais violento do que qualquer outro desporto - não é nem mais, nem menos dopado do que os outros. É apenas mais vigiado. E isso provar-se-á no dia em que os demais desportos - o futebol, por exemplo - forem tão fiscalizados como o ciclismo. Mas aí parece que ninguém quer entrar... Mesmo quando é sabido que já vários futebolistas morreram em campo. Tão estranhamente como Bruno Neves morreu na estrada.
Coutinho Ribeiro, in http://oanonimoanonimo.blogs.sapo.pt/