O APITO DA SEMANA

Chegam os peritos

O julgamento do processo originário do Apito Dourado é retomado hoje no tribunal de Gondomar. O dia será dedicado a Vítor Pereira, presidente da Comissão de Arbitragem da Liga e um dos peritos de arbitragem que analisaram não só os jogos do Gondomar SC na época de 2003/2004.Com Coroado e o também antigo árbitro internacional Adelino Antunes, este trio analisou também jogos da Liga principal mas não é isso que aqui estará em causa. Tivemos acesso a alguns dos relatórios finais das peritagens dos três antigos conceituados árbitros e não se pode dizer que estes sejam expressivos quanto a indícios que ajudem a consolidar a tese do Ministério Público sobretudo no sentido de condenar os árbitros envolvidos por corrupção passiva.Há que fazer prova não apenas das ofertas (ouro e lampreias) mas também é preciso encontrar um nexo de causalidade destas com erros premeditados.Dúvidas“Quando a imagem capta o lance, já o jogador se encontra isolado”, “a imagem não esclarece se o infractor foi ou não advertido”, “as imagens não são esclarecedoras”, “cassete de muito má qualidade filmada por detrás da baliza não conseguindo ter imagem fixa”, “não se conseguem identificar as equipas”, “imagem captada de muito longe”, “decisão discutível”, “presumível penálti” são apenas alguns exemplos dos problemas técnicos que também os peritos sentiram no visionamento das cassetes apreendidas com jogos do Gondomar.Danos colateraisA defesa vai certamente aproveitar esta enorme brecha na muralha da acusação e na ordem do dia estará também a subjectividade inerente ao desporto que é o futebol e à actividade específica do árbitro de futebol.

Olha o Leirós!


O julgamento do processo originário do Apito Dourado foi hoje retomado em Gondomar. Vítor Pereira, presidente da Comissão de Arbitragem da Liga, está a ser ouvido na qualidade de perito de arbitragem que analisou as imagens de alguns jogos do Gondomar. Surpresa no tribunal de Gondomar foi a presença do antigo árbitro José Leirós, que se sentou na bancada dos advogados na qualidade de conselheiro técnico da advogada de José Luís Oliveira, um dos arguidos.Vítor Pereira elaborou, com os também antigos árbitros Jorge Coroado e Adelino Antunes (que também serão chamados a depor em Gondomar), relatórios de peritagem de alguns jogos do Gondomar SC na época de 2003/2004, que culminou com a subida de divisão desta equipa.A audição de Vítor Pereira promete ser longa pois serão analisados diversos lances e as imagens disponíveis são de fraca qualidade. Até agora, foi apenas analisado um lance relativo ao jogo Vizela-Gondomar, arbitrado por Licínio Santos, um dos árbitros arguidos. Vítor Pereira considerou que este árbitro aplicou a lei da vantagem num lance disputado aos 9 minutos, deixando por mostrar um cartão amarelo a um jogador do Gondomar que teve uma entrada por detrás a um adversário. Segundo Pereira, impunha-se que naquela fase do jogo o árbitro não aplicasse a lei da vantagem, parando o jogo e mostrando o cartão amarelo ao infractor. "Não ajuízo intenções, ajuízo factos", já fez questão de precisar o presidente da Comissão de Arbitragem da Liga e instrutor da FIFA.
Vítor Pereira acabou de ser ouvido, na qualidade de perito, no Tribunal de Gondomar. O presidente da Comissão de Arbitragem da Liga analisou, com Jorge Coroado e Adelino Antunes, também antigos árbitros, 63 jogos, entre os quais mais de 20 do Gondomar SC, o clube na berlinda no processo originário.No final da sessão, Vítor Pereira salientou que a qualidades das gravações dos jogos do Gondomar tornaram muito difícil o trabalho de análise dos três peritos. "Com estas imagens seria incapaz de avaliar o trabalho de um árbitro", referiu, depois de na sala de audiências ter emendado a mão várias vezes, emitindo opiniões contrárias ao que foi estampado nos relatórios de peritagem assinados pelos três peritos.Na mesma sala de audiências - onde se seguirão, na próxima semana, os testemunhos de Adelino Antunes e Jorge Coroado -, Vítor Pereira fez sorrir os réus presentes quando na análise ao jogo Pedras Rubras-Gondomar até considerou que ficou uma grande penalidade por marcar para a equipa gondomarense. O árbitro visado, Pedro Sanhudo, também presente, não conseguiu deixar de sorrir a propósito deste comentário ao seu trabalho num jogo que o Gondomar venceu perto do fim, através de uma grande penalidade que as imagens não esclarecem e que mereceu de Vítor Pereira este comentário: "Não se pode dizer que não há penálti".Ao presidente da CA da Liga foi também perguntando se no seu tempo de árbitro recebeu prendas, tendo Vítor Pereira confessado que recebeu medalhas, galhardetes, pins, relógios, símbolos de clube e até aguardente típica de uma região que não precisou. "Nos jogos da UEFA era normal receber camisolas (gravatas nas ilhas britânicas)", referiu, depois de recordar uma circular da UEFA, anterior a 2002, ano em que abandonou a actividade de árbitro, que determinava que os árbitros não podiam receber prendas de valor superior a 200 francos suíços (120 euros ao câmbio actual).

Fitas e tackles

Com um vídeogravador "emprestado" pelo Ministério Público, prosseguiu hoje à tarde o julgamento do processo originário do Apito Dourado. O juiz António Carneiro da Silva está a tentar melhorar ainda mais as condições de visionamento mas as imagens continuaram a correr numa televisão com um ecrã demasiado pequeno para a dimensão da sala de audiências. Hoje só foi possível visionar imagens de dois jogos - Vizela-Gondomar e Trofense-Gondomar - e Vítor Pereira terá de voltar amanhã a Gondomar para continuar a explicar a peritagem que fez aos jogos na companhia de Jorge Coroado e Adelino Antunes. Esta fase dos peritos promete arrastar-se pelo menos durante a próxima semana...Vítor Pereira aproveitou para esclarecer "um equívoco que anda por aí" a propósito dos "tackles". Segundo o presidente da Comissão de Arbitragem da Liga, "o facto de um jogador jogar na bola e depois no adversário não quer dizer que não tenha sido cometida qualquer infracção". Isto a propósito de um lance relativo ao jogo Vizela-Gondomar, arbitrado por Licínio Santos, arguido que não esteve presente na sala de audiências. Ao contrário do árbitro Valente Mendes, figura em foco na análise ao jogo Trofense-Gondomar. Após a análise de casos poucos significativos, Vítor Pereira acabou por contrariar a períca feita pela Polícia Judiciária e que resultou de uma acção no terreno. Segundo o antigo árbitro internacional, Valente Mendes decidiu bem, aos 9', ao não validar um golo à equipa da casa. Nas imagens percebe-se que o avançado do Trofense empurra um defesa do Gondomar antes de fazer o golo. Aliás, Vítor Pereira considerou a arbitragem do lisboeta Valente Mendes "boa" no jogo que analisou."Estas peritagens estão a demonstrar que a base em que assenta a análise destes jogos não está correcta e os peritos estão a confirmar isso mesmo. Verifica-se que o juízo de valor pressuposto pela acusação no sentido de que há aqui um favorecimento do Gondomar não está correcto e se calhar o juízo correcto é exactamente o contrário", referiu, no final, Artur Marques, advogado do principal arguido, José Luís Oliveira, ex-presidente do Gondomar SC.