JORNALISMO


Sempre tive a impressão que o jornalismo brasileiro é, em relação ao que por aqui se pratica, de outra galáxia. Ao ler, de uma penada, a autobiografia de Ricardo Kotscho - que podem encomendar à editora brasileira "Companhia das Letras" - fiquei em definitivo convencido, apesar das reticências do meu amigo gaúcho André Ribeiro, para quem "nada é tão ruim que não possa ficar pior". Kotscho trabalhou, entre outras publicações, no "Estado de S. Paulo" e na "Folha de S. Paulo", dois dos maiores diários brasileiros. Era um homem do terreno que não receava empenhar-se em causas, como aconteceu quando "investiu" na cobertura do fenómeno Lula da Silva, de quem chegou a ser assessor já quando o sindicalista se tinha transformado em Presidente da República do Brasil. Kotscho ia para a rua quando não havia histórias na "pauta" da redacção e é simplesmente brilhante e vibrante. A sua admiração pela importância do trabalho e do carisma dos repórteres-fotográficos foi outro tiro que acertou num alvo que também eu já tinha definido, depois de ter tido o privilégio de fazer reportagem ao lado de craques como Malacó, Paulo Santos, Simão (pai e filho), Timóteo, Óscar Saraiva, Lobo Pimentel, Luís Vieira, Paulo Duarte, Ricardo Pereira (pai e filho) e outros que sabem bem que também entram neste clube. "Uma Vida de Repórter" conta também a forma como os grandes jornais brasileiros valorizam a história, ou, parafraseando Carlos Pinhão, a estória. Aliás, Kotscho cita a dada passo outro grande jornalista brasileiro que dizia que o objectivo primário do repórter é contar bem a história da história. Para quem gosta destas coisas, cá está um verdadeiro manual de jornalismo, sem toques de pedantismo e exercícios gramaticais mal copiados de livros de estilo obscuros. Desfrutem.
PS - Por falar em jornalismo e jornalistas, tenho desbundado neste Verão com o trabalho do meu colega Rui Miguel Tovar, uma verdadeira "ave rara" num universo cinzento onde é cada vez mais difícil a afirmação de um talento. Como é realmente o caso.