O primata do Bessa


Acho que foi Vítor Pereira o primeiro a chamar primata ao Jaime Pacheco. O segundo foi ontem o meu amigo Daniel Reis na sua crónica das quintas n' A Bola, uma das pouco decentes publicadas no espaço de opinião do meu ex-jornal, para não falar nos indispensáveis lençóis todas as semanas estendidos pelo MSTavares e pela Leonor Pinhão (se estão bem recordados, as crónicas de Santana Lopes eram intragáveis, com mau português e poucas ideias, parece que a "coisa" era ditada à secretária enquanto SL despachava...).Quanto ao primata Pacheco, nada a opor. É primata, como todos nós, primos ou não primos. E tem, como dá para ver, pouco ou nenhum pêlo na cabeça.Desde que ganhou o campeonato, contra tudo e contra todos, Pacheco perdeu popularidade. Deixou de ser aquele bacano que dizia umas coisas engraçadas e passou a ser o treinador-que-ganhou-porque-Valentim Loureiro-era-o-presidente-da-Liga ou porque a sua equipa dava mais porrada que o Tyson nos seus bons velhos tempos.Vai-se ver a estatística e o Boavista não é a equipa que mais faz faltas faz.É o FC Porto e os esquisitos são quintos no ranking.Vai-se ver e o departamento médico do Boavista está cheio de jogadores com lesões traumáticas resultantes da competição.Vai-se ver e o Boavista foi um dos poucos clubes que cortou a sério no seu orçamento.Vai-se ver e o Boavista continua a ter as suas principais modalidades em funcionamento, do ciclismo ao futsala.Vai-se ver e o Boavista está nos lugares europeus.Vai-se ver e o Boavista transformou jogadores dispensados em figuras do campeonato.Vai-se ver e o Boavista tem um director desportivo que dirige.Vai-se ver e o Boavista tem um presidente que não tem um chorudo salário.Vai-se ver e o Boavista até tem adeptos.Pois, eu sei. É um clube de um bairro do Porto. Uma pedrinha no sapato. Uma rotunda.Um exemplo, também.Infelizmente maltratado.É o país que temos. Ou melhor, os primatas que somos.

in BnA, Dezembro de 2004. Memória a propósito da tese "Pacheco não gosta de futebol", mais uma vez difundida por Miguel Sousa Tavares, personagem dos media e do meio literário que nunca foi visto a dar um pontapé na bola nem que fosse num daqueles jogos organizados pelo clube de empresários de Coruche.