As minhas histórias (1)


Fiz para a "Gazeta dos Desportos" a cobertura do Europeu de 84, lembram-se?, os patrícios, a tal selecção que era treinada por uma "junta" presidida pelo treinador Fernando Cabrita. A acompanhar-me tive o meu colega repórter-fotográfico Fernando Amorim, conhecido por Malacó (hoje no JN). Das várias estórias desse Euro, que mais lá para a frente aqui contarei, destaco esta, ocorrida após o Roménia-Portugal que nos apurou para as meias-finais da prova, o tal jogo com a França que perdemos no prolongamento. Portugal precisava de vencer, o jogo caminhava para o fim e...entrou Nené. Pouco depois, o remate, quase de raspão, a bola ainda bate na relva e é gooooooolo. Portugal segue para Marselha mas antes é preciso ouvir o herói, o senhor Tamagnini. Nas cabinas do estádio, Nené apresenta-se com um sorriso. Microfones e blocos na sua direcção. Um gesto de negação. O que vejo? Será para mim que Nené aponta? É mesmo. "Só falo com ele...", diz. E explica: "Foi o único que quis saber como eu estava antes deste jogo". Nené, recorde-se, era 3ª opção, atrás de Jordão e de Gomes. E foi assim que tive um dos grandes exclusivos da minha carreira. Registei as respostas de Nené num bloco e estava tão nervoso que quase não conseguia, depois, decifrar os hieroglifos. Só podia mesmo ter sido com Nené, o craque nascido em Leça da Palmeira, onde o "je" viveu os seus primeiros nove anos de vida.