VELHOS GRINGOS


- Estás a ler o quê?
- Quê?!
- Que livros tens nos braços?
- É "O Velho Gringo", de Carlos Fuentes. Como sabes só leio romances de fronteira. Fuentes, Shepard, Steinbeck...
(a tarde ia alta em Lameirão, onde as gaivotas não chegam e o calor invade até as caves e as grutas)
Um longo silêncio depois, ouviu-se o noticiário na TV. Portugal está a arder. Nem era preciso dizer. Aquele calor não era só fumaça.
- Vais ver?
- Na. Pra quê? Uma hora de gritaria, com bombeiros cansados, o povo desanimado e os ministros suados nas suas camisas e gravatas. E o tom dos pivot, meus Deus, salvai-me!
- Então vamos fazer o quê?
(um mergulho no rio, está-se mesmo a ver - este é, informa-se, um rio sem explorações de porcos a jusante)
Falta mais de um mês para o fim do Verão.
- O que fazes amanhã?
- Nada.
- Nem aquilo?
- Claro, vou à vila comprar os desportivos...
- Oh, claro, a fronteira.
- Sim, do outro lado do monte...
(ia a noite adiantada, charro acima, copo de vinho abaixo)
- E no Iraque, viste? Mais dez anos e estão outra vez a fazer filmes em Hollywood.
- Pá, então e os chineses agora são amigos dos russos!
- E o preço do crude continua a subir...
- Parece que os helicópteros velhos da força aérea para o ano vão apagar todos os incêndios...
- Consta que o Guterres está novamente no Sudão.
- A sudar.
- Claro.
- Quantos jogos de futebol podemos ver na televisão de sexta a domingo?
- 24.
- Fixe, Mário.