A NOSSA LIGA

Não há muitas expectativas quanto ao próximo Campeonato Nacional.
Expurgado o Estrela da Amadora, outras equipas ligadas à máquina enfrentam uma época difícil. Metade do pelotão está em claro défice, exposto, exausto, debilitado, frágil, nivelando o campeonato perigosamente muito por baixo.
Cada vez é claro que 16 equipas é demasiado se quisermos uma competição digna desse nome.
Apenas uma das duas regiões do país, a da Madeira, está a conseguir manter duas equipas num nível acima da média, o que é um esforço apenas possível porque existe Jardim há muitos anos na Pérola do Atlântico. Os Açores estiveram quase a recuperar a posição perdida e são grandes candidatos a uma vaga.
Quanto ao resto do país, é o que se conhece.
No Porto, pulmão comercial e industrial do país, Salgueiros e Boavista saíram de cena. Resta um Leixões tocado para a frente graças à engenharia financeira de um homem (Carlos Oliveira) que pode ser apertado em breve pelas malhas da política.
Vila do Conde lá conseguiu manter o seu Rio Ave, sempre com o dedo de Mário de Almeida. A Póvoa, com outra massa crítica, vive numa crise da qual não dá sinais de poder sair.
O Paços de Ferreira, por seu lado, é provavelmente a única equipa portuguesa com uma gestão racional e sobrevive também por isso, ajudando também o facto de ter apostado num treinador que sabe o que faz. Não é um Ikea que acaba com a tradição dos marceneiros.
Em Braga, a gestão de Salvador está também algo dependente do que vai acontecer a Mesquita Machado nas próximas eleições. Pela primeira vez o alcaide bracaraugustano treme e teme.
Em Guimarães, Emílio Macedo joga a sua última cartada, cada vez mais pressionado pelos históricos do clube, ou seja, por Pimenta Machado. O clube não consegue resolver o seu passivo e não tem "massa" para ambicionar mais, estando a correr claramente atrás do seu rival minhoto. Do que é sintomático o sublinhar do presidente, durante a apresentação, quando lhe perguntei se corria por um dos primeiros quatro lugares ou cinco. "Cinco, cinco", frisou bem o líder vimaranense. Esclarecedor, pelo menos para mim.
Curiosamente, em pézinhos de lã a zona centro parece sobreviver à crise.
Aprígio Santos continua a alimentar a Naval graças também a uma aposta firme em Ulisses Morais, um Jorge Jesus mais musculado e um homem que respira futebol.
Em Coimbra, capital estratégica da nação desde Afonso Henriques, as chamadas forças vivas continuam a contribuir para alguns problemas do clube mas José Eduardo Simões tem sabido resistir às ofensivas inofensivas.
Mais abaixo, em Leiria, João Bartolomeu conseguiu mais um milagre. O "Cigano", está visto, não pode ser menosprezado, O Grupo Lena também vai dando uma ajuda enquanto a presidente da Câmara faz uma cura do Apito...
Na capital e nos seus termos, para além de Benfica e Sporting resta o Vitória de Setúbal - provavelmente a equipa primodivisionária mais dependente da "máquina", a viver uma vida artificial. Uma equipa que não pode dar nem um passo em frente nem um à retaguarda pois anda na borda de dois abismos.
Ok, o Algarve está de volta. O que se saúda. O reino dos Algarves tem por si só capacidade para manter uma equipa estabilizada neste escalão mas está retalhado por rivalidades e a crise também já ali chegou. Veremos se é desta que se afirma na I Divisão.
Quanto ao interior do país, é a desolação que se conhece. Vamos ver se o Desportivo de Chaves consegue subir mais um degrau pois trás-os-montes merece futebol de primeira. Nas beiras, a única esperança reside na Covilhã - o que é pouco, quase nada. O Alentejo, esse, demitiu-se desta guerra há muito tempo.
O panorama não é animador. Talvez por isso tivemos há pouco tempo Pinto da Costa a falar numa Liga europeia. De facto, o FC Porto há muito tempo que está acima desta mediocridade. É o oásis deste deserto.