TAMOS QUITES


Após uma cura de desintoxicação de bimbos e afins entre a Meda e o Pinhel, regresso a casa e encontro uma carta do Tribunal Criminal de Lisboa. Para me dar conta de que o major Valentim Loureiro me imputou um crime de difamação agravada devido ao livrito que há pouco mais de um ano escrevi para o Record a propósito do Apito Dourado (o livro mais a sério está de momento congelado, pois há prioridades para cumprir). Resumindo, o Ministério Público já não me tinha acusado mas o major pediu a instrução. José Luís Oliveira, Castro Neves e, voilá, Avelino Ferreira Torres constituíram-se como assistentes no processo. Bem, quanto aos vereadores não foi surpresa, agora o Avelino sempre gostava de saber o que está ali a fazer. O douto juiz de instrução do TIC começou por afirmar que não vislumbrou qualquer insulto ou difamação no facto de ter escrito que o processo começou em gabinetes de autarcas. Quanto ao facto de o major ter ameaçada um elemento da Direcção Geral das Pescas com duas galhetas e de ter considerado Pimenta Machado um filho da puta ("um artista do caralho", acrescentou Pinto da Costa), o juiz disse o autor da queixa é uma figura pública com uma postura "desinibida, frontal e pouco complacente ou contida", pelo que, perante estas características, "dificilmente se podem considerar aquelas expressões susceptíveis de bulir com a honra e consideração de que gozava antes das mesmas serem exaradas no livro". Mas não era tudo. Valentim arguiu ainda que a expressão "patrão dos patrões" o conotaria com a maFia italiana na expressão capi di tuti capi. O juiz não foi tão longe e considerou e relevou a importância que VL tinha como presidente da Liga, considerou-o mesmo "patrão dos patrões". O mesmo juiz não vislumbrou qualquer comprometiento difamatório no trecho "Valentim era uma espécie de PBX para quem todos ligavam a pedir favores" pois "nada se diz sobre os favores pedidos. "No entanto", desenvolve, "é o próprio assistente quem, após a extinção das medidas de coacção, afirma, como se escreve no mesmo livro sem que tenha sido desmentido pelo assistente, "poderei ter recebido uma ou outra chamada e que possa haver algum problema ético numa dessas conversas com dirigentes ou árbitros". O juiz considera manifesto "o interesse público no conhecimento do modo de actuação dos dirigentes máximos da actividade desportiva". Há mais, meus amigos. Ainda segundo VL, contestam-se os pormenores relatados no dia em que foi detido bem como o resultado da busca, entre os quais um telefonema ao então ministro José Luís Arnaut e outro para Joaquim Oliveira, para ser visto em pleno tribunal a afirmar "não há dinheiro, não há crime". Mais uma vez o douto juiz considerou que não detectou qualquer vestígio ou expressão ofensivos, concluindo que o jornalista não pode ser responsabilizado pelo relato de opinião alheia. Continua VL acusando-me de o ter considerado "cabeça de cartaz", referência que entende "como equivalente a cabecilha de um grupo de criminosos". Não foi esse o entendimento do juiz. VL considerou ainda que o seu nome foi enlameado ao ser referido em jantares que soturnos no seu restaurante ao Foco com Pinto da Costa. O juiz considerou que o termo usado por mim - soturnos - se explica pelo facto de Pinto da Costa ser então um solitário. Quanto ao facto de se ter referido no livro a alguns lanches que VL teria pago a árbitros, o juiz considera que mesmo podendo não ser um facto verídico não é difamante, considerando-o que o podia ter feito na qualidade de bom anfitrião. Por fim, VL alega que eu o conotei "a ligações com determinadas zonas do mundo criminoso" mas, segundo o juiz, esqueceu-se de indicar onde. Pelo que não fui pronunciado.


É uma grande peça jurídica esta produzida pelo 4.º Juízo do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa. O "escritor", afinal, sabia o que estava a fazer, senhor major, e nem precisou de aceitar a sua sugestão para passar na CMG para uma conversinha que ia acabar de vez com o processo. Como deu para ver, ele caiu de podre.
PS - Amigo Vila Pouca, como bem sabe não bebo bebidas alcoólicas com frequência, não sou cliente do Sapo, como fruta (da real) todos os dias, não frequento tertúlias nem dependo de padrinhos, pago os meus impostos, contribuições e propinas, não tenho contas em off-shores nem no Luxemburgo, apenas sou sócio do Leixões e pago os cigarros que fumo. Ou seja, corro poucos riscos de ter azia, embora por vezes possa ser aziago. E, já agora, parabéns pelo tetra. Vamos lá ver se é desta que vai prò penta. É o mais provável...