Outras guerras


Como recentemente ficamos a saber, nem todos os repórteres de guerra andam na guerra. Pelos vistos no Iraque eram os free-lancers que faziam as imagens sobre as quais depois "montavam" as grandes figuras do jornalismo mundial. "Atrás de mim, no Marquês, perdão, em Bagdad..." Adiante. Não serve como comparação mas acompanhar um mundial tem muitos pontos de contacto com a chamada "reportagem de guerra". A ver: o inimigo está sempre a mover-se no terreno e muitas vezes mesmo a mudar de camisola, as altas patentes exigem sempre de nós mais do que exigem do nosso colega que faz o piquete de polícia, os raides nocturnos são frequentes, há minas e armadilhas mesmo na própria trincheira e toda a gente pensa que andamos na borga quando de facto estamos nas lonas. Mas também há o lado positivo: as cumplicidades que se ganham, as anedotas que se contam, as terras e as pessoas que se conhecem, a adrenalina dos grandes momentos e, claro, a sensação de que também nós estamos a viver a História. Uma corrida de fundo que exige sempre alguns sprintes diários e para a qual é necessária não só boa condição física mas também boa condição psicológica. Porque não se pode contar nem com um dia para carregar baterias nem com o reconhecimento das hierarquias ou da própria classe, chegando mesmo uma altura em que se perde a consciência do trabalho que estamos a produzir. Acreditem que é dose. Eu já estou por cá mas, apesar de tudo isto, sei perfeitamente que se perguntassem a todos os meus colegas que ainda permanecem na Alemanha se amanhã queriam vir embora para reencontraram as suas famílias e as suas rotinas...todos diriam NÃO. Aquele abraço, pois, para todos os "guerreiros" que continuam na Alemanha, agora em trânsito para Munique, em breve a caminho de Berlim. A meta já está à vista e são todos vencedores.