O REGRESSO DO MAiOR

17.30 horas, Rua da Constituição, Porto. 17 graus, nuvens fartas e fofas.
Valentim Loureiro sai do seu carro de serviço, proveniente de Lisboa. Sai devagar, dando tempo a que as câmaras o foquem.
-Olá,ahahahahahahahahahaha! – exclama quando topa o popular Manuel do Laço.
- Você fez muita falta!, atira o indefectível adepto boavisteiro, já o major está a subir os cinco degraus de acesso à sede que ele mesmo inventou, com a ajuda do construtor J. Ferreira.
- Veio para ficar?, pergunto-lhe.
- Vim para tomar contacto com assuntos próprios da minha responsabilidade enquanto presidente da Liga. Tenho tomado conhecimento de tudo através da Comunicação Social.
(os funcionários saúdam-no, há lágrimas nos olhos)
Emanuel Medeiros, secretário-geral da Liga, está junto da tapeçaria da entrada e cumprimenta o seu presidente. Carlos Pinto, secretário da comissão de arbitragem, também aparece.
- Então, Carlos, estás bom? – saúda-o major, começando a subir para o primeiro andar.
Lá está o seu retrato e também os de João Aranha, Manuel Damásio, Lito Gomes de Almeida e Pinto da Costa, os outros presidentes da Liga.
- Eh, pá, vocês estão a dar uma expressão a isto!... – é ainda o major, já no primeiro piso.
Encosta-se ao corrimão e faz um primeiro ponto da situação.
- Não tenho nada de especial para dizer, mas, pronto, vou já recebê-los no auditório. Agora vou passar ali no meu gabinete, vou ver se ainda está na mesma.
- Está, está, diz a sua secretária.
- Olá! – mais cumprimentos.
A caminho do gabinete, uma porta entreaberta dá para vislumbrar Cunha Leal e António Duarte a fazer de conta que estão ocupados. Um pelotão de jornalistas segue o major até ao seu gabinete.
- A Judiciário não levou tudo? Os emblemas? Ficaram cá todos?, dispara o major, entre gargalhadas.
- Pronto, meus amigos, o meu gabinete está aqui, não foi ocupado, houve esse bom senso, vá lá…
(já no auditório)
frases soltas, perante um auditório com muitos jornalista se com muitos funcionários. Luís Guilherme, presidente da comissão de arbitragem, não falha. Cunha Leal e Duarte devem continuar a navegar na Internet, lá em cima…
VL lê o despacho da juíza Ana Cláudia Nogueira que dá por finda a sua suspensão.
“Os meus advogados já me tinham dito que embora o meu recurso para a Relação continuasse em Gondomar a cumprir, desde 13 de Julho do ano passado, processos burocráticos, que completado um ano esta medida de coacção seria extinta.
Já disse que nunca falei pessoalmente com o Jacinto Paixão nem que lhe telefonei, nem falei com o abservador do jogo nem com o Pinto Correia. Nunca ninguém me apanha numa mentira. Quando falo digo aquilo que é verdade. Portanto, quando fizer uma afirmação, e já tenho suficiente tempo de actividade, não estarei a mentir. Os gondomarenses sabem isso.”
“Levantada esta medida de coacção, regresso com toda a normalidade ao desempenho das funções de presidente da Liga. Disse e repito: sou o presidente da Liga, nunca deixei de ser, nunca deleguei em ninguém as competências que me são atribuídas até porque não o podia fazer. No dia 23 de Abril do ano passado, quando me foi aplicada esta medida de coacção,já não podia fazer nada porque já não estava em funções e se o pudesse fazer teria o direito de delegar as minhas competências em qualquer dos membros do comissão executiva e não obrigatoriamente no director executivo. Se tivesse capacidade para delegar, delegaria em quem muito bem entendesse, infelizmente não podia delegar no secretário-geral porque isso não está previsto no regulamento…
(segundo remoque a Cunha Leal)
“Ao contrário do que foi admitido, nunca, desde que me foi imposta esta medida de coacção, entrei neste edifício ou procurei saber o que quer que seja. Felizmente, os membros da comissão executiva e o seu director também interpretaram a proibição como a sua própria proibição de falar comigo e nunca me deram conta do que aqui se passava. E ainda bem porque fizeram com que eu não me tivesse de preocupar com algumas das coisas que sei que por aqui se passaram
(afinal, VL sabe alguma coisa…)
“Estou muito triste que isto tenha acontecido sem que o meu recurso tivesse sido atendido. Desagrada-me o que aconteceu. Mas não me posso sobrepor às leis do país. As leis são estas, vamos aguardar pelo desenvolvimento de todo este processo e vamos acreditar que tudo se esclarecerá e que eu não cometi qualquer crime de que me envergonhe ou que me diminua. Não tenho consciência de ter cometido algum crime. Eventualmente, poderei ter recebido uma outra chamada e que possa haver algum problema ético numa dessas conversas com dirigentes ou árbitros. Mas eu entendo que as minhas funções enquanto presidente da Liga me dão o dever de exercer alguma magistratura de influência para que a Liga tome decisões correctas não só do ponto de vista disciplinar.”
“Sempre desenvolvi acções no sentido de sintonizar o mais possível as duas instâncias disciplinares desportivas. Para acabar com algumas críticas à justiça desportiva. Continuará a ser meu dever trabalhar no sentido de, sem me imiscuir nas decisões, procurar sensibilizar os decisores para que haja aqui alguma consonância”
(VL a arregaçar as mangas)
“Quero aproveitar ainda a vossa presença para transmitir a todos aqueles que me querem bem e que tiveram manifestações de solidariedade desde que tive o azar de meu ver envolvido neste processo. Houve muita gente que solidarizou comigo a todos os níveis. Aqueles que me querem mal e que me queriam ver linchado na praça pública, quero dizer que ainda não vai ser desta…
- Muito bem! – exclama Manuel do Laço.
“Quando o meu nome é posto em causa e as instâncias judiciais responsáveis nada esclarecem o que é deixado cair a alguma comunicação social com o objectivo de atingir alguns dos arguidos…
(oh-oh)
“Quero garantir que logo que este assunto seja solucionado estarei disponível para me associar a todos aqueles que têm sido vítimas da justiça, melhor será dizer da injustiça, para formar um movimento de revolta. Aquilo porque eu tenho passado e a família, entre os quais os meus 11 netos, dos 3 aos 15 anos… As medidas que me foram aplicadas fazem pensar que aqui há coisas muito graves mas os meus familiares sabem que isso não é verdade mas não deixam de ser vítimas de todo este show-off com que a Polícia Judiciária me brindou. A PJ exibiu-me como um troféu de caça!”
(isto aquece)
“Sinto-me um verdadeiro troféu de caça e acho que a PJ o vai colocar numa das paredes mais visíveis porque este é o processo com o qual eles têm gozado mais. Mas quem ri melhor ri no fim.”
“Tenho a consciência de que não fiz nada de grave. É uma consciência minha, claro. Mas tenho de admitir que quem está do outro lado possa tirar conclusões subjectivas e possam pensar de outra maneira.”