BOLINHA A ROLAR É O QUE INTERESSA


Vem aí mais um campeonato. A "animosidade" resultante das batalhas disputadas nos tribunais suiços e portugueses parece ser o grande factor de empolgamento. Nada de muito exaltante se passa na frente de combate. Ok, temos Quique no Benfica a controlar o peso dos jogadores, a promover almoços em família e a pôr a equipa a jogar alguma coisa; temos o FC Porto órfão de Bosingwa, Assunção e Quaresma; e temos o Sporting a começar como de costume, ou seja, conquistando a Supertaça, mostrando a sua vocação de sprinter numa corrida de meio-fundo. Há, depois, o Sp. Braga e o V. Guimarães, na disputa do costume, arvorando-se ao estatuto de 4.º grande, agora mais aliviados pois o Boavista foi remetido para a II Liga e dificilmente de lá sairá se se mantiver o "status". Os dois clubes minhotos não aprenderam ainda, porém, que não se vai à caça com os cartuchos dos outros caçadores... Numa posição de charneira, Belenenses, Marítimo e Nacional da Madeira assumem-se como equipas que podem baralhar as contas da dupla minhota. O resto é francamente desolador: clubes em débeis condições financeiras, sem oxigénio e completamente expostos às intempéries e nas mãos dos clubes que lhes fornecem jogadores ou de empresários que entretanto enriqueceram enquanto os clubes caminhavam para a falência. Paços de Ferreira, Leixões, Estrela da Amadora, Académica, Naval 1º de Maio. V. Setúbal, Trofense e Rio Ave formam uma espécie de Liga dos últimos na qual alguns destes clubes se podem destacar devido ao facto de seguirem estratégias sérias e realistas, como são os casos de Leixões, Paços, Trofense e Rio Ave, clubes que bem podiam apresentar reclamações na Autoridade da Concorrência. Um exemplo apenas para demonstrar a fragilidade dos clubes que dão consistência à nossa I Liga: o V. Setúbal, há anos em agonia, a saltar de solução salvadora e em solução salvadora (até já teve um presidente cuja carta de recomendação destacava o feito de ter atravessado o Sado a nado), não tem dinheiro sequer para ir a Genebra ao sorteio das competições europeias e pediu ao FC Porto para o representar! Isto é quase o grau zero... A Liga quer um campeonato competitivo, só isso interessa para que o negócio seja potenciado e os patrocinadores se juntem à tribo, mas não está nada fácil. Os nossos clubes que não são suportados por verbas extraordinárias, como acontece com os clubes da Madeira (agora menos é certo mas estão a beneficiar do investimento de outros anos...), estiolam e não haverá, a médio prazo, IPMEI que os possa salvar. A nossa Liga é uma casa com alicerces podres e com uma "penthouse" de novo rico. Este desequilíbrio mais dia menos dia será fatal, seja pela erosão do processo competitivo, seja pela falência dos projectos financeiros. Inverter este rumo deverá ser o objectivo, com a consciência de que não se vira um porta-aviões de rumo com um simples rodar de leme...