CONTO DE NATAL*


O Pai Natal estava deprimido.

A Coca-Cola ameaça não renovar-lhe o patrocínio e a Motorola não lhe deu este ano um telemóvel novo.
Apesar de tudo, fez-se à vida. As criancinhas merecem o esforço.
Preocupado com o degelo no Árctico e com a extinção das iguanas na Costa Rica, o Pai Natal tentou animar-se raspando a raspadinha do DN mas só lhe saíram 20 cêntimos.
De novo à beira de uma depressão profunda, foi sobressaltado pelo toque do telemóvel, ou seja, com um "por que non te callas?"

Era Charles Chaplin.
- Olha, pá, estou a ligar-te de Custóias...
- ???
- Homem, a cadeia. Tou aqui ao lado do Pidá e de sus muchachos.
- Pide?
- Pidá? O do gangue da Ribeira, o super...
- Meu...
- Ouve, são todos bons rapazes. Isto animou bastante desde que aqui chegaram.
- Mas, Charles, o que fazes aí?
- Fazes cada pergunta, Natalino! Fui preso por ser parecido com o Adolfo. Também é verdade que estava a roubar um BMW turbo 45 csi...
- Não te emendas, Charles.
- Sabes que sou danado para a brincadeira. Mas olha, é o seguinte: aqui os rapazes queriam fazer um pedido especial...
- Hum...
- Para além do habitual, que é o FC Porto ser campeão, gostavam que lhes trouxesses uma picareta, um balde, 100 metros de corda...
- Eh lá, eh lá...isso eu não posso fazer.
- Ok, tá bem. Em alternativa pedem 4 fardas de guardas prisionais e 4 pistolas.
- Assim está bem.
- Cumprimentos aí aos teus ajudantes, Charles. Em especial ao Luís Filipe, meu concorrente no circo Vítor Hugo Cardinal.
- Serão entregues.

Posto isto, o Pai Natal chamou os ajudantes escolhidos para 2007 e fez-se à estrada, ou melhor, ao corredor aéreo.
Luís Filipe, Jorge Nuno e Filipe. Gostava mais do grande embora o do cabelo encaracolado também tivesse a sua saída. O outro é que não prestava. Se mandava governar as renas para a esquerda, ela guiava-as para a direita. E recusava-se a vestir de vermelho.
Feitas as entregas, o Pai Natal tirou as botas e pediu um conhaque. O grande serviu-o logo pois era ele quem tinha a garrafa. O do cabelo encaracolado começou a chorar. Faltava o outro. Caraças! Era sempre o mesmo...

- Nuno, Nuno! - chamou o Pai Natal.
- Vou já - respondeu.
Quando a porta se abriu, entrou não só ele como também o bando do Pidá. E o Charles. O do cabelo encaracolado e bigode refugiou-se aos pés do pai Natal e o grande aproveitou para encher mais um copo.
- É assim, velhote, passas já à reforma. Eu e os rapazes vamos tomar conta disto. Mas fica tudo em segredo de justiça. E não digas nada ao Jorge Mendes, que é por causa das comissões.
Foi então que Charles Chaplin fez o seu número. Saltou para o colo do Nuno e gritou:
- Finalmente, o grande ditador! Tempos modernos, meus, e agora vamos à quimera do ouro.

Nuno não percebeu nada e deixou-o cair com estrondo.
- Rapazes, mais um para a grelha.
Os rapazes assustaram-se.
- Sim, para a grelha da lareira! E tu, aí, não te escondas, és o primeiro. O grande pode ficar, diverte-nos. Temos de meter uma foto dele no Hi5.

* uma tradição BnA