BOMBA RELÓGIO


As certidões do processo Apito Dourado também revelam negócios pouco claros ao nível do pagamento dos impostos e deram origem a cinco novas investigações por infracções fiscais. Uma delas agora em apreciação no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto diz respeito à transferência de Pepe, do Marítimo para os "dragões". O jogador havia chegado ao clube da Madeira na época de 2001/2002 proveniente do Corinthians Alagoano, clube de que o empresário António Araújo, uma das pessoas em foco em vários processos do Apito Dourado, chegou a ser co-proprietário. Pepe foi depois transferido para o FC Porto no início da época de 2004/2005, tendo assinado um contrato válido por cinco anos, numa transferência que terá custado cerca de 1 milhão de euros. Toda a documentação está agora a ser analisada à lupa pela Direcção-Geral de Contribuições e Impostos.a A investigação às suspeitas de fraudes fiscais nas transferências de jogadores de futebol atinge já uma dimensão significativa na Polícia Judiciária (PJ). Os inspectores estão a investigar mais de duas dezenas de transferências de atletas, envolvendo vários clubes da Liga, processos nos quais há indícios de terem sido cometidos também crimes de burla. Relativamente ao Benfica, por exemplo, há pelo menos três processos em inquérito que visam suspeitas de infracções fiscais na transferência de jogadores. Um deles, já noticiado, é o que diz respeito à contratação do angolano Pedro Mantorras, que foi do Alverca para o Benfica. Este inquérito encontra-se no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) e aguarda ainda pela reinquirição pedida por Luís Filipe Vieira, entretanto constituído arguido.Os restantes envolvem outros seis jogadores. Um dos negócios diz respeito à época 2004/2005, quando o Benfica comprou o passe de cinco futebolistas do Alverca, por cinco milhões de euros (Veríssimo, Rodolfo Lima, José Rui, Artur Futre e Amoreirinha). A última transferência, também envolvendo o Benfica e o Alverca, tem a ver com a aquisição de Ronald Garcia, um atleta que o Benfica contratou mas que nunca chegou a jogar no clube.Também em investigação, e dizendo respeito ao Sporting, está o negócio que envolve a compra do passe de João Pinto. Embora, para já, só tenham sido constituídos arguidos o ex-empresário José Veiga e o jogador que agora veste a camisola do Sporting de Braga, as autoridades ainda não afastaram a possibilidade de envolvimento de algum dirigente leonino. Outras transferências de José Veiga, para o FC Porto, Sporting e Benfica, estão também a ser investigadas, na sequência de diversas denúncias entradas na PJ, depois de o "caso João Pinto" ter sido tornado público. Uma delas tem a ver ainda com a saída de um jogador do Boavista para o estrangeiro.Ainda segundo o PÚBLICO apurou, as investigações não param por aqui. Há, por exemplo, suspeitas de infracções fiscais na transferência de Jorge Ribeiro (irmão de Maniche) do Gil Vicente para o Dínamo de Moscovo.Outro clube debaixo da atenção das autoridades é o Estrela da Amadora. Desde a auditoria privada pedida pela actual direcção do clube que continuam a ser investigados os negócios que envolveram a compra de oito jogadores. Seis deles são Calado, Abel Xavier, Chainho, Miguel, Jorge Andrade e Gaúcho, que renderam proveitos ao clube de 12,5 milhões de euros. Nesses casos, há também suspeita de fraude, por a auditoria ter detectado grandes disparidades nas contas.Entretanto, na Madeira, também o Marítimo e o Nacional têm a correr investigações por suspeita de infracções fiscais. Há diversos negócios envolvendo o empresário António Araújo - co-arguido de Pinto da Costa em algumas das certidões do Apito Dourado - que estão a ser analisados pelo magistrado Rosário Teixeira, do DCIAP. Há também processos que dizem respeito ao Santa Clara, referentes à época em que ainda militava na I Liga, e cuja conclusão deverá estar para breve.Para além dos casos citados, no decurso das investigações da PJ foram encontradas as situações mais diversas. Há negócios, como os de João Pinto, por exemplo, que passaram exclusivamente por off-shores, mas há também outros em que os empresários eram simultaneamente dirigentes dos clubes aos quais eram feitas as contratações. Nestes casos, as autoridades encontraram indícios claros de sobrevalorização dos jogadores.

in PÚBLICO