O menino que abafava nas palhinhas


Um menino dormia no meio das palhinhas. Filho de mãe incógnita e de pai poderoso, o criador do Universo e do Mundo, esse menino sonhava já com o dia em que ia passear de fio dental em South Beach. Mas o todo-o-poderoso depressa o dissuadiu. No fundo, ela tinha vindo ao Mundo com uma missão bem definida: salvar os homens do pecado. O menino cresceu, até podia ter entrado numa ópera rock ou fumado crak mas nessa altura nada disto era moda. Por isso, o menino-homem teve de fazer ao caminho e enquanto caminhava foi pensando que era o Messias. Uns tantos quantos seguiram-no. Depois de ensinar os doutores do Templo, de passear sobre as águas do Mar Morto e de abençoar prostitutas, ainda pensou que no mínimo um dia podia ter o prazer de se bronzear na Praia 14 da Costa da Caparica. Debalde. Lá de cima chegaram ordens e estas ordens não se discutem, não cumpri-las dá direito a despedimento com ou sem justa causa. O menino, já chamado Jesus, como facilmente adivinharam, acabou morto pregado numa cruz, o que deu muito jeito ao Mel Gibson e a mais uns tantos realizadores de cinema de Hollywood, que foi o máximo que ele se conseguiu aproximar do American Dream, sendo que à época a América era apenas habitada por tribos de sioux, apaches, aztecas, maias e uns tantos indiferenciados que aguardavam a chegada de bandidos portugueses para fazer o melhor país do mundo – o Brasil. Onde, por sinal, ainda hoje se venera muito Jesus, embora nunca desprezando o cadomblé e outras artes afins. Nunca fiando...
(podia ter encontrado uma maneira mais simples e até original de falar do Natal, mas não estou propriamente com espírito natalício, se querem que lhes diga passava e ia já para 3 de Janeiro, mas tenho também de respeitar as ordens dos superiores)
Ainda estive tentado a pedir a ajuda a Mr. Google ou ao seu compadre Mr. Yahoo para compor esta prosa com alguns factos e outras tantas lendas. Por exemplo, a dos reis Magos, que, mesmo sem GPS, e guiando-se por uma só estrela, ao contrário dos bandidos que contribuíram com uma quota de 50 por cento na feitura do Brasil, conseguiram encontrar um palheiro específico no meio da Galileia, escapando às barreiras de estrada dos israelitas e às pedradas da malta da intifada. Não havia nada disto? Nem fio dental? Nem cinema? E o 'Apito Dourado', também não?! Como diz um amigo meu: “Tocar ao bicho é agradável e seguro mas mijamos melhor se dermos uma queca”. Ora aqui está uma frase que, dirá já o leitor, não vem a propósito de nada. Mas até tem a ver. Eu explico. De pouco teria servido todo o trabalho milagreiro que Jesus teve se não tivesse provocado um orgasmo a sério aos judeus que o crucificaram no meio de dos bandidos, se bem que estes nada tivessem a ver, obviamente, com os achadores do Brasil e digo achadores porque ninguém descobriu o Brasil, ele já lá estava quando os tugas ali chegaram, felizmente em época de procriação das índias patachós ou tupiniquins, não interessa, o que importa é que elas ontem como hoje estavam disponíveis para a fornicação, acto simples e terapêutico que nada tem a ver com o amor e do qual só às vezes resultam danos colaterais.
Caminhamos para 25 de Dezembro com alguma apatia, em crise quase profunda e sem grandes desafios. O mundo está descoberto, o terceiro segredo de Fátima já foi revelado e saiu mais uma lâmina da Gillete que nada acrescenta às outras para além do preço. No tempo de Jesus não as havia e o resultado sentiu-se alguns anos mais tarde, ali por 1960, quando alguns americanos caucasianos deixaram crescer as barbas e começaram a fumar erva da Jamaica. Há quem me garanta que Jesus e os seus discípulos também se pedravam e por isso é que alucinavam tanto. Mas acredito tanto nisto como na imagem de Fátima sobre uma azinheira da Cova da Iria, ali a seguir às bombas da BP da A1. O único milagre que me aconteceu nos últimos tempos foi conseguir dormir até ao meio-dia sem que o telemóvel tocasse. O que foi excelente. Quando criança esperei sempre muito do Natal e nunca me desiludi. Até o vi várias vezes, facto que nada espantou a minha mãe, que conhece bem as minhas qualidades paranormais – pequenito ainda, amiúde surgia em casa dizendo que tinha falado com alguns conhecidos, o que seria perfeitamente normal se estes não tivessem já falecido. Ainda hoje a minha mãe tem algum respeitinho por mim devido a esta qualidade e que devo ter sido o único filho que ela, por pudor, nunca levou ao exorcista. Obviamente, em pequenino no Carnaval gostava de ir mascarado de Diabo e só me espanto hoje que tal me tenha sido permitido. Nesta fase do campeonato é também comum criticar-se o consumismo. Mas não há nada de mais natural. Depois de José Saramago ter consagrado a shopingmania com a sua “Caverna” platónica, o que queriam? Que ficássemos todo em casa a ver o AXN em vez de ir queimar alguns euros para o Norte Shopping, contribuindo para o negócio do Tio Belmiro, um dos Messias da modernidade? Na. Reparem, o que gozou Judas com os vinténs que ganhou com a traição após uma última ceia onde, segundo Mr. Brown, havia o similar a uma ucraniana para animar a malta, que a ementa era fraca embora houvesse vinho na mesa? Eu sei do que estou a falar porque também em pequenino comi muitas vezes o corpo de Cristo e faço questão de dizer que foi de um Cristo já adulto e não criancinha, não vá aparecer por aí um procurador maluco a acusar-me de qualquer crime. Sim, eu sei, estou a falar de tudo menos do Natal. Desculpem qualquer coisinha mas o meu disco rígido está com problemas e desconfio que isto não vai lá nem com corrector ortográfico, tanto mais que tenho como som de fundo o debate entre Mário Soares e Francisco Louça, um agnóstico e um ateu.
À tua, portanto. E à vossa.
Feliz Natal.