As minhas histórias (3)


Voltamos a 84, ao Europeu de França. Estou num hotel de Marselha, perto do “Vieux Port”, na companhia do meu colega Malacó e de José Neves de Sousa, um dos maiores jornalistas, se não o maior, de sempre do nosso desporto. Connosco está também a famosa Anabela Chalana, mulher do ‘Pequeno Genial’. De lágrimas nos olhos, diz-nos: “O Fernando está farto, vai abandonar o estágio!” Estávamos a poucas horas de defrontar a Espanha, no segundo jogo do Europeu. Portugal tinha empatado a zero bolas com a Alemanha, em Estrasburgo, no jogo inaugural.
Havia notícia. Anabela conta todos os pormenores, diz que Fernando chorava ao telefone e que não suportava mais a bagunça provocada por uma equipa técnica com representantes dos três grandes. Na baila também a questão dos prémios e a pressão que já se sentia sobre o jogador para a sua transferência, que se viria a consumar após o Europeu.
Não hesitei. Com os dados recolhidos, fiz duas páginas sobre o ambiente que se vivia nos “Patrícios”. Portugal empata com a Espanha – golo de Sousa – e voa para Nantes, para defrontar a Roménia. Sou dos últimos a entrar no avião, o meu lugar é na frente…ao lado de Silva Resende, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol. O ex-director de A Bola tem a “Gazeta” nas mãos. Sento-me e preparo-me. Obviamente, aperto o cinto.
Durante uma hora, nos céus de França, Silva Resende tenta dar-me uma lição de jornalismo, alertando-me para os perigoso do sensacionalismo (mal ele sabia o que estava para vir). A conversa é urbana e aproveito para lhe fazer uma entrevista. Nada mau para quem pensava que ia ser atirado do avião quando este atingisse a velocidade de cruzeiro…