PINTASSILGO


Quando recebeu a notícia de que já era jogador do Derrota FC, Pintassilgo pagou uma rodada de minis e de magos na tasca do Júlio Manco. A rodada rodou para uma suecada e esta devorou uma perna de presunto e os chouriços que por lá andavam. Acabou toda a gente a beber vinho do pipo e a cantar "We are the Champions" num inglês irrepreensível, só possível em Tugas de Cima quando se atinge o nirvana dos ébrios. Já era dia quando todos rastejaram para casa, onde foram recebidos por paus de marmeleiros e rolos da massa que deixaram em alguns recordações perenes no sítio onde acaba o músculo e começa o osso (ou vice-versa).

No dia seguinte, Pintassilgo percorreu cinco quilómetros pelo monte e apanhou a camioneta para Celorico. Onde comprou um novo par de chuteiras e pó de talco para as virilhas, pois é um jogador de coxa generosa e afeito a atritos dolorosos. Quando chegou ao estádio do Derrota FC, colocou os olhos no chão e fez de conta que era um poste. Mas o roupeiro deu por ele, aliás, estava à espera dele. Era a primeira vez que tinha pela frente um rapaz com 2.10 metros e 135 quilos de peso (quase tudo fibra). Um verdadeiro tanque, este Pintassilgo um dia descoberto numa pelada do monte, quando o director do ping-pong fazia um pic-nic.

O primeiro treino não custou. Mais difícil foi defrontar os jornalistas. O clube proibiu Pintassilgo de falar e este não se deu bem com este primeiro contacto com o bando.
- Pintassilgo, podes falar?, perguntou um
- Não, disse, metendo os pés pelas mãos.
- Nem um pio?

(28 dias depois)
Pintassilgo regressa a Tugas de Cima com o título de melhor marcador do defeso. Tinha já propostas do Chelsea e do Real Madrid e cinco empresários dormiam à porta da pensão onde se instalara. Mas não quis aquela vida. As moças de Tuga de Cima podem não fazer a depilação mas não há nada que chegue a uma mini bem fresquinha. E na rodada de sueca Pintassilgo sempre pode piar. Ou, ainda melhor, cantar.

(28 dias depois)
Um jornalista atrevido chegou a Tugas de Cima para fazer uma entrevista a Pintassilgo.
- Podes falar, Pintassilgo?
- Não, disse ele, metendo as mãos pelos pés.
- Nem um pio?
E Pintassilgo, o matador, lançou o facalhão pelos ares e cortou um chouriço de sangue ao meio.Os editores não acharam a conversa interessante, mas o jornalista todos os dias se lembra daquela tarde que passou em Tugas de Cima com um grupo de bêbados e um promissor craque com nome de passarinho.