SEM COMENTÁRIOS

De Carlos Barbosa de Oliveira, no site do Clube de Jornalistas:
«O jogo Portugal-Eslováquia terminara há quase uma hora e a RTP continuava a fazer o “rescaldo” da vitória lusa, entrevistando tudo quanto passava junto de um repórter. As habituais perguntas banais, repetidas e entediantes, apenas entrecortadas por breves análises ao jogo (uma espécie de muleta, quando não há ninguém para entrevistar).
Já há muito nos habituámos a essas “pérolas” jornalísticas que são os “flashinterview”, já estranhamos quando o repórter não resume as intervenções de Scolari nas conferências de imprensa, como se estivesse a traduzir as suas palavras, e já somos indiferentes à hilariante “isenção” dos comentários ao longo dos jogos da Liga.
Julgávamos, ingenuamente, que nada mais nos iria surpreender. Puro engano... o “momento da noite” estava reservado para próximo do final deste “prolongamento” dos jogos que a RTP vem explorando até à exaustão. Carlos Daniel interrompe a conversa com Gabriel Alves e devolve a emissão para o centro nevrálgico do estádio da Luz, por onde continuam a passar inúmeras personalidades.
O entrevistado é desta vez o primeiro-ministro de Timor, Mari Alkatiri. O repórter desportivo, ainda inebriado com a vitória portuguesa, atira a primeira pergunta:“ Timor não tem e provavelmente nunca terá um estádio como este. Como se sentiu aqui?”.
Confesso que, rodeado de pessoas estupefactas com a pergunta, não consegui memorizar a resposta, mas retenho ainda agora na retina o ar contido e algum enfado de Mari Alkatiri. A entrevista continuou com outras questões desprovidas de interesse, onde “o miúdo do país vizinho de Timor” veio á baila. Mas a entrevista não terminaria sem que o repórter, rendido à grandiosidade do estádio da Luz, voltasse à carga:“ Para quando um estádio como este, ou pelo menos um estádio com condições dignas para Timor?Mari Alkatiri manteve a compostura e apenas respondeu:“Timor tem outras prioridades, talvez um dia.”
O repórter deu por terminada a entrevista com a satisfação estampada no rosto. Muitos portugueses como eu, respiraram aliviados e fizeram “zapping”. O repórter voltará um destes dias com mais perguntas “inteligentes”.»