O BOAVISTA


As pessoas que conheço que não vivem a paixão do futebol gostam do Boavista. Porque entendem que é um "outsider" e porque também apreciam o seu bairrismo. Para não falar nas "camisolas esquisitas". Mas as pessoas que conheço e que vivem a paixão do futebol não gostam do Boavista. Antes do mais, porque os seus corações não batem pelo clube do Bessa. As outras razões são diversas: pensamento por oposição, recalcamentos, mau profissionalismo, inveja, estupidez... O catálogo é extenso e fico por aqui. O Boavista pecou sobretudo ao conseguir vencer um campeonato. Já tinha ganho algumas taças mas nunca ninguém deu muita importância à "fruteira". O Boavista só começou a assustar quando se tornou campeão e quando foi capaz de, praticamente sem apoios, avançar com o primeiro estádio da 'zona euro', uma ousadia que ainda hoje lhe está a custar caro. O Boavista ganhava mas era a equipa dos caceteiros. O Boavista ganhava mas era a equipa do sistema. O Boavista ganhava mas era porque os outros estavam fracos. O Boavista só raramente ganhava porque merecia.
Hoje, uma maioria esmagadora está feliz - o Boavista já não ganha e estiola com problemas financeiros. Desconfio que metade da tribo do futebol anseia pelo dia em que abrirá falência. Não digo que não, digo só o que penso e o que desejo: que o Boavista volte a ser campeão, que continue a somar anos de história e que cresça, como até aqui, sem destruir a sua base social, ou seja, sem alienar modalidades amadoras para apostar tudo na SAD do futebol. Gosto do Boavista bairrista, do seu estádio à inglesa, dos seus adeptos também fanáticos, dos gritos da dona Fernanda, do traje de luces do Manuel do Laço, dos equipamentos e das pessoas que o dirigem. Não o escondo. Digo, repito, o que penso. Não tenho pedras no sapato nem pedras na mão e o sangue já não me corre nas guelras, como noutros tempos. Fico aqui no meu cantinho a ver o que isto dá, à espera de um novo dia para poder ir até à rotunda com a minha bandeira festejar um título de uma equipa que não é minha mas que em momentos desses devia ser de toda a gente.