UM DIA PERFEITAMENTE NORMAL %$#"!

Edite edita.
Soares sua.
Vai nessa sacode-se.
Rui ri-se.
Reunião de editores, ao fim da manhã. Discutem-se os produtos. Os que nós demos mas sobretudo o que não demos e os outros deram. Há uma gralha na página 26 e cinco notícias sem fotos. O jornal tem cinco fotos inclinadas e dois leitores ameaçam com processos devido a torcicolos. Há 12 notícias de economia e quatro sobre espectáculos que só os críticos vêem. A reportagem sobre o bairro social é lamechas e a percentagem de on's é: dois assistentes sociais por cada morador.
Coffe breack. Bolachinhas. Tempo de combinar o almoço. No sítio do costume, com a conversa de merda do costume. Uísques a fechar.
Mas já lá vamos. Discuta-se o produto. O jornal que há para fazer. O espaço está todo ocupado por notícias de ontem e anteontem e o repórter X e o Y, os chatos do costume, já lá estão do outro lado do vidro, amarrados às suas camisas de força, babando-se. C'um raio, que interesse tem uma notícia quando urge o follow-up?
O almoço é o que se temia. Entedia.
A tarde segue vaporosa com muitos silêncios e o resfolegar surdo dos dedos nos teclados. Ninguém diz asneiras. O melhor é ir lanchar, antes da reunião da primeira página.
A barriga do director insinua-se. O porco não lavou a cara, ainda tem a base do debate de ontem da TV. Os seus seguidores esparramam-se no chão, sempre ansiosos pela performance.
A primeira página cozinha-se em duas horas. Em lume brando. Todos opinam, recordam-se capas de revistas estrangeiras. E pensa-se no jantar, na casa de um deles, com comida chinesa...
A 1ª é bonita. Não diz nada mas brilha.
Está a terminar o dia dos génios. Uma queca não ficava mal, para variar. Mas os poetas e os estetas anseiam por um sarau arrotando a chop suei de gambas.
Quando o jornal roda na rotativa, a malta adormece nos pufs.
Puf!