ARBITRARIEDADES


Vista e revista a jornada - isto é, os casos polémicos -, mais uma vez se verifica que quanto mais se levanta o tapete mais pó aparece. Não vi os jogos dos três grandes em contínuo mas a sensação com que fiquei, e que aqui logo deixei, foi que as arbitragens estiveram em linha com o que é desejável. Sou obrigado a emendar ligeiramente a mão depois de ver repetidos os lances que mereceram discussão e reparem que não estou a falar em questões ridículas como seja contar os tempos de paragem para exigir dez minutos de tempo de compensação no jogo da Luz ou reclamar a repetição do penálti de Cardozo porque dois jogadores entraram na área antes da execução do pontapé da marca de 11 pontos. Este blogue, ao contrário do que alguns possam pensar, ainda não virou lavandaria... Não vou colocar neste saco também as opiniões dos paineleiros dos programas do costume pois está visto que esta é uma fórmula esgotada e que apenas resulta por inércia, podendo ainda ser apreciada pelo lado humorístico. Vamos, pois, por partes.

NACIONAL-SPORTING (Pedro Proença) - De todos os jogos grandes, sem dúvida aquele no qual o árbitro melhor se "safou". Não houve lances capitais a envolver a arbitragem e apenas se registaram algumas reclamações quanto ao critério disciplinar do árbitro.

PAÇOS-FCPORTO VIA V (Carlos Xistra) - Sendo o árbitro da Covilhã uma pessoa que gosta de algum protagonismo, mais uma vez conseguiu-o pelo lado errado. Em causa está, sobretudo, a expulsão de Hulk. Ninguém mostra um cartão amarelo aos 12 minutos a não ser por motivos muito fortes. Não pode ser um qualquer desabafo de um jogador a justificar a amarelagem. Tal só aconteceu porque Xistra gosta de aparecer. O segundo cartão amarelo ao jogador portista também não se aceita. No seu estilo peculiar - toca e foge -, o tractor brasileiros apenas tentou um lance desesperado para salvar o lance e a força que gera o seu movimento fez disparar para a linha de fundo o seu teatral adversário. O que disse ou não disse a seguir a Xistra não terá sido propriamente um convite para jantar à luz das velas mas, repete-se, não terá sido nem mais nem menos do que aquilo que outros jogadores, de ambas as equipas, disseram durante o jogo. Quanto ao último lance anulado pelo árbitro assistente Luís Marcelino, fiquei com a sensação que Carlitos já tinha perdido o ensejo de marcar, pois Fernando ganhou-lhe a posição. Tal como no fora-de-jogo tirado a Farías, aceito que na dúvida o árbitro assistente levante a bandeira, pois é muito pior não marcar o que é do que marcar o que não se sabe o que pode ser.

BENFICA-MARÍTIMO (Artur Soares Dias) - Desde já declaro que gosto muito de Artur Soares Dias. Acho que pode ser um grande árbitro e que não merece o que dele tem sido dito, sobretudo por um energúmeno que participa numa orgiástico programa do PortoCanal que cuspiu sobre a memória do pai de Artur, Manuel Soares Dias, e sobre os mais elementares conceitos de humanismo mas como só eu e a minha cadela vimos o programa de aí não virá grande mal ao mundo. No lance do penálti do Nacional, aceito que tenha sido marcado. Num primeiro momento pareceu-me que David Luiz entrou com tudo sobre o jogador do Nacional mas verifiquei depois que este é que teatralizou a queda, quanto à bola que bateu no braço ou no braço que bateu na bola...bem, não é possível determinar intenções e o gesto às vezes pode ser tudo. David Luiz é que não pode abordar daquela maneira um lance na sua grande área! Na minha modesta opinião, Artur Soares Dias foi complacente com Cardozo quando não o expulsou depois de uma tesoura incrível sobretudo em slow motion! E David Luiz também podia ter ido mais cedo para o banho, o que, convenhamos, nem seria assim tão mau para os encarnados.... Quanto ao penálti para o Benfica, Saviola foi esperto e mergulhou antes de ser tocado por Miguelito, enganando o árbitro. Tudo espremido, o que temos aqui: um penálti com dúvidas que se aceita que tenha sido assinalado (contra o Benfica) e outro duvidoso que também se enquadra no admissível (contra o Nacional), bem assim como um cartão vermelho que ficou por exibir. Muito pouco para tão grande polémica, amplificada naturalmente por antigos árbitros que quando no activo muitas vezes envergonharam a classe com erros grosseiros, como por exemplo no mesmo lance não validar uma bola que entrou na baliza e validar um golo a seguir obtido em fora-de-jogo e isto numa competição internacional!


PS 1 - Quanto ao antijogo do Marítimo, estou completamente de acordo com Luís Freitas Lobo. Tal como ele também sou amigo do Carvalhal mas...se o futebol fosse só ataque não seria mais que um bordel de ideias e conceitos. A arte está muitas vezes na forma como se defende e não tanto na forma como se ataca pois, como se diz, a defesa é muitas vezes o melhor ataque, paradigma consagrado sobretudo pelos reis portugueses da primeira dinastia...


PS 2 - Vamos fazer um exercício e comparar qualquer uma destas três arbitragens com o trabalho do húngaro Viktor Kassai ontem em Alvalade. Como seria se tivesse acontecido na primeira jornada do nosso campeonatozito?