O APITO DOURADO


Aí está o primeiro, e provavelmente último, julgamento de Pinto da Costa no Apito Dourado.

Como disse um dia o advogado Artur Marques, depois de uma das sessões do julgamento do processo originário, "a montanha vai parir um ratinho". No caso em apreço, nem foi isso que aconteceu. Neste, pode ser diferente.

É verdade que Pinto da Costa chega aqui com alguns trunfos - os arquivamentos que ganhou um degrau antes do patamar do julgamento. Um deles relativo ao processo com mais substância, o da "fruta para dormir". Perdeu-se assim a oportunidade de ver António Araújo explicar a que tipo de fruta se estava a referir quando fez a encomenda para JP.

Tenho para mim que neste processo que está em Gaia ninguém está a dizer a verdade absoluta. PC e Araújo vêm dizer agora que o encontro se ficou a dever a um pedido de Duarte, no sentido de resolver um problema particular e familiar. Não foi isso que Duarte disse quando foi ouvido pela juíza de instrução. Aí, confirmou mesmo alguma relutância em aceitar o convite de Araújo para visitar a casa de PC dois dias antes do jogo para que estava nomeado e sobre as razões do mesmo até usou a palavra "duvidoso" para o classificar perante a juíza Ana Cláudia Nogueira e o procurador adjunto Carlos Teixeira, hoje exilado no "Bananal" a que se referiu Valentim Loureiro numa escuta.

Não acredito também que Carolina tenha visto Pinto da Costa a entregar um envelope a Augusto Duarte e que este lhe tenha revelado a quantia que estava em causa. O presidente do FC Porto podia ser um "Giorgio apaixonado" mas burro não é... Carolina apenas fez uma associação de ideias, indo de encontro a uma tese de acusação. O que não quer dizer também que o encontro em sua casa tenha servido apenas para se tomar um cafézinho e comer uns chocolates, enquanto os presentes dissertavam sobre "nada", assunto como se sabe bastante lato. Mas está visto que dos três o único capaz de filosofar verdadeiramente é o senhor Jorge Nuno, amante de Régio e de outros poetas militantes.

O escândalo deste caso explica-se facilmente: não há nada que possa justificar a visita de um árbitro a casa de um presidente antes de um jogo IMPORTANTE que iria ser apitado por este envolvendo a equipa do segundo. Note-se que estávamos a quatro jornadas do fim do campeonato e o FC Porto tinha 5 pontos de avanço sobre o Sporting. Os leões jogaram no dia anterior no Bessa, perderam e por essa razão o empate passou a ser um bom resultado para o líder, que tinha dois jogos em casa nas três últimas jornadas e festejou o título no hotel antes de disputar o jogo da 32.ª jornada. Curiosamente, no mesmo hotel onde Araújo esteve a fazer horas com as meninas que dormiram com a equipa de arbitragem chefiada por Jacinto Paixão...

Obviamente, os adeptos do FC Porto dirão deste caso que se trata tudo de uma conspiração, que Pinto da Costa esteve seis meses sob escuta e que só deu isto. Ao que posso contrapor que só deu isto porque o presidente portista confessou várias vezes que o seu telefone estava sob escuta, colocando-me assim a jeito de mais um chorrilho de insulto, embora este seja apenas um exercício de estilo, ao jeito de uma conversa sobre o vácuo, o vazio ou nada, o que será a mesma coisa, ou talvez não...

Quanto aos adeptos dos outros clubes, é certo que não têm dúvidas que houve aqui marosca. Aqui e noutros jogos. Se houve ou não houve, uma coisa é certa: para a Comissão Disciplinar da Liga e o Conselho de Justiça da FPF houve mesmo, falta saber o que diz agora a juíza do 1.º juízo criminal do tribunal de Gaia, que tem nas mãos um caso bicudo.

Não nos podemos esquecer também que o Apito Dourado está longe de ser algo que deu em...nada. Houve 14 condenações no processo originário, António Henriques e Martins dos Santos já foram condenados por corrupção desportiva, outros julgamentos estão para ser decididos ou a começar, etc, etc. Tá bem, eram 81 as certidões mas já se sabia que era demasiada areia para a camioneta da justiça, um terreno demasiado poroso, pouco impermeável...

Desvalorizar o Apito Dourado é não querer ver o que está à frente dos nossos olhos, negando a oportunidade de um vislumbre sobre os bastidores do nossos futebol e as manhas dos seus intérpretes.

Dependendo da perspectiva, manha aqui pode ser lida como argúcia ou como corrupção. A linha de fronteira entre as duas é mais frágil que o balanço do BPN.

Uma coisa é certa: o Apito Dourado pode ter um fraco resultado jurídico mas o seu efeito profiláctico foi quase devastador. E, que eu saiba, em processos deste tipo é sempre esse o grande objectivo.