OLIVEIRA TV




O Campeonato parou durante duas semanas para que a Selecção Nacional jogasse e para permitir que se dispute uma eliminatória da Taça de Portugal. Depois de um longo defeso, os nossos clubes profissionais foram obrigados mais uma vez a penar num deserto de receitas. Assim vai a nossa organização de jogos, iluminada pelas decisões daqueles que tudo fizeram para reduzir o quadro competitivo para 16 equipas. Os mesmos, curiosamente, que hoje se transformaram em paineleiros televisos e que enchem os bolsos enquanto os clubes têm os seus cada vez mais vazios.Quando falo de clubes não falo de sociedades desportivas. Tenho de dar razão ao senhor Alfredo Farinha e à sua cruzada contra as sociedades desportivas. O que ganhou o futebol português com elas? Bem, sempre sacaram alguns dinheiro aos adeptos em acções que hoje estão esquecidas no mercado de capitais, com movimentos diários minimalistas e flutuações...para baixo, sempre para baixo. Mas valeu a pena. Os dirigentes tornaram-se administradores, passaram a ter ordenados comparáveis ao de qualquer empresário, têm carro e gasolina à borla e um cartão de crédito dourado ou prateado.É certo, quase todo o Mundo seguiu o exemplo. Veja-se o Manchester United que está nas mãos de americanos. O City que foi do tailandês e agora é de um homem das arábias. Do Chelsea de Abramovich. Enquanto por cá continuamos todos à espera dos grandes investidores. Porque será? Bem, temos alguns, embora de trazer por casa (sem ofensa). É o caso de Joaquim Oliveira, que não pode ser confundido com paineleiro só pelo facto de, na década de 80, ter sido visto a pregar publicidade em painéis à volta do campo onde a Selecção treinava, em Saltillo. O dono da Olivesdesportos controla o mercado das transmissões televisivas, funciona como uma espécie de instituição de crédito para alguns clubes, tem jornais e o único canal televisivo português de desporto, e é accionista de uma série de socieades desportivas. É tal o seu poder que já ninguém estranha quando aparece nas tribunas em posição de honra ou é convidado para a apresentação do novo seleccionador nacional.Quando se fala, embora baixinho, do interesse da Liga em mediar a negociação dos direitos televisivos, principal fonte de receitas de clubes e de sociedades desportivas, seria bom perguntar a Oliveira o que pensa do assunto. Eu não preciso de lhe perguntar porque sei qual é a resposta. O patrão da Olivesdesportos está pouco preocupado com o assunto. Em parte porque tem os clubes "presos" durante os próximos anos com contratos cujos dinheiros entretanto já foram adiantados. Oliveira fez o seu papel no sentido total da frase, ou seja, se mais não deu foi porque ninguém lhe pediu. Com a excepção de Vale e Azevedo, o tal que rasgou os contratos depois de ter dito que um escudo é um escudo. Viu-se depois que era menos.Hoje, fala-se no advento do Canal Benfica, o clube que, segundo a FIFA, tem 14 milhões de adeptos. É uma espécie de pedrada no charco embora não passe disso. O clube da Luz só poderá colocar no ar, como seu exclusivo, os jogos europeus, pois os outros, os de trazer por casa, estão vendidos a Oliveira. Que entretanto no cabo soma canais: consta que já vai em quatro...e mais uma vez ninguém insinua qualquer tipo de concorrência. Quem o pode acusar de ter usado a fórmula da pólvora se a patente não foi registada?...Que ninguém tenha dúvidas: a vitalidade dos clubes e das sociedades desportivas portugueses passa pela capacidade que tiverem para vender os seus direitos televisivos. Mas os sinais de mudança são irrisórios. Além do mais, FC Porto e Sporting parecem estar satisfeitos com 10 milhões de euros por ano pelos direitos dos seus jogos, apenas 10 vezes mais do que aquilo que recebem os clubes pequenos. Sem os quais, curiosamente, não haveria Campeonato. Por este andar pode ser que um dia seja possível exterminá-los! Naturalmente.


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