ECLETISMO TEÓRICO


Poucas horas antes do arranque de mais uma edição dos Jogos Olímpicos, o Sporting fez questão de associar-se ao evento, numa cerimónia, em Alvalade, onde mais do que o hastear das bandeiras (a própria e a olímpica portuguesa), o clube aproveitou para recordar o seu passado eclético.Filipe Soares Franco lembrou os 109 leões que já defenderam as cores nacionais no evento, dedicando particular atenção aos heróis que, num País pouco dado aos grandes feitos internacionais, lograram trazer medalhas para casa. Fez bem o líder sportinguista. O clube tem mesmo um passado notável de que pode e deve orgulhar-se. A componente olímpica é só mais uma – provavelmente a mais mediática – vertente de um todo repleto de grandes resultados, recordes, medalhas e títulos em diversas modalidades.A intervenção de Soares Franco não mereceria críticas se, desde que é o responsável número 1 do clube, o Sporting não tivesse continuado a esquecer (o processo iniciou-se antes, é certo...) a sua vertente eclética. Fica sempre bem alertar o Mundo para os muitos títulos conquistados em Portugal e na Europa, mas não deixa de ser curioso assistir a isso quando, nos últimos anos, o clube desapareceu das principais competições internas em modalidades como o hóquei em patins, basquetebol, voleibol ou ciclismo, tudo desportos que contribuíram (e de que maneira) para o engrandecimento do clube. E se não existisse Moniz Pereira... talvez até o atletismo estivesse reduzido a uma expressão meramente simbólica.Falar em ecletismo quando o clube, após a construção do novo estádio, ficou sem pavilhão, pista de atletismo ou piscina é... estranho. E, pior que isso, soa a conversa fiada, a declaração política e não sentida. Será que Soares Franco considera prestigiante ver os atletas de “casa às costas” para poder treinar? Será que aprecia o facto do futsal jogar num sítio e o andebol noutro? E, claro, de vez a vez lá vem a gasta conversa de que as modalidades têm de ser auto-suficientes. Teoria muitas vezes partilhada pelo rival da Segunda Circular, clube onda também existe muita gente que só se lembra do ecletismo aquando dos títulos. Entendo a mensagem da necessidade das várias secções procurarem suporte financeiro próprio, mas convinha que os dirigentes – quando a ela apelam – explicassem às pessoas se o futebol, na maioria dos casos, também é auto-suficiente. Todos sabemos a resposta...É evidente que é o desporto-rei a mola real dos grandes emblemas, mas pretender estabelecer uma relação directa entre os gastos nas modalidades e o insucesso futebolístico não passa de uma mentira. Aliás, quem quiser dar-se ao trabalho de fazer contas, irá reparar que tanto Sporting como Benfica só começaram a preocupar-se com o dinheiro investido nas modalidades quando entraram em períodos de grande “seca” no futebol (a Norte, no FC Porto, sucedeu o contrário, as repetidas vitórias futebolísticas permitiram um crescimento impressionante do sucesso das modalidades). Curiosamente, não me lembro de ver os dirigentes a chorar os milhões gastos em futebolistas de segundo nível, muitos dos quais recebem balúrdios para nada fazer. Todos nos recordamos de muitos. Demasiados...PS – Notável a Cerimónia de Abertura em Pequim. Os chineses prometeram um grande espectáculo e cumpriram. Agora, chegou a hora da verdade. Portugal está presente com 77 atletas e tem condições reais de atingir um conjunto de resultados de grande valia. Vamos acreditar!

LUÍS AVELÃS