RENDIMENTOS PER CAPITA


Ontem, no tribunal de Gondomar, na 43.ª e penúltima sessão do Apito Dourado, o juiz chamou 23 dos 24 arguidos (o árbitro Sérgio Sedas, que se declarou primeiro desempregado e depois condescendeu em dar-se como agricultor quando o juiz disse que desempregado não é profissão, o que não, porém, líquido neste país também...) e perguntou-lhes pelo agregado familiar e pelos vencimentos, para confirmar o que se chama "relatório social", importante para determinar eventuais multas. Pois bem, fiquei a saber que até nem ganho mal. Repare-se. Valentim Loureiro declarou como rendimento fixo mensal 3300 euros, ordenado de presidente da Câmara, e quis "mandar " rectificar algumas coisa no relatório social, tendo o juiz de pronto posto o major em sentido: "Não é uma questão de mandar..." Enfim, tiques. O juiz só se esquecer de perguntar o rendimento a José Luís Oliveira. Ficamos a saber, a seguir, que Pinto de Sousa tem um rendimento mensal à volta dos 6500 euros (reforma incluída), que Francisco Costa tira 1.750 euros e Luís Nunes, reputado empresário na Feira, 2000 euros. Carlos Carvalho, presidente dos árbitros da AF Porto e gerente do restaurante Lima 5, famosos pelos seus cozinhados, ganha 1500 euros. Descendo ao árbitros, o empresário de construção civil Licínio Santos ganha 1000 euros, Pedro Sanhudo 600 euros na padaria da sua mãe em S. Salvador do Monte, o pintor-estucador da Nazaré António Eustáquio 500 euros, Hugo Silva 900 euros no banco onde trabalha, João Macedo vive ainda à custa dos pais, Ricardo Pinto também e Valente Mendes tira 900 euros como animador de ATL. Jorge Saramago, escriturário, ganha 800 euros, o observador Barbosa da Cunha, metalúrgico nos estaleiros navais de Viana do Castelo, 900 euros, o empresário têxtil e árbitro José Manuel Rodrigues 600 euros, o presidente da junta de Foz do Sousa Agostinho Silva 1485 euros como autarca, o seu parceiro Américo 2000 euros na condição de engenheiro civil e o tenente-coronel António Ferreira, que era sargento quando o major era capitão e que está metido nisto por causa de uma espécie de adjudicação que deu na acusação de crime de prevaricação também para o mahor, 1750 euros como reforma do exército. Ou seja, tirando dois ou três casos, estamos perante um naipe de arguidos de rendimentos modestos, o que confirma cada vez mais o processo originário como um processo de arraia-miúda. Ou será que estou a ver mal o filme e não verifiquei convenientemente o parque automóvel?