PALHAÇADA NO CIRCO DO FUTEBOL


Não costumo ser dado a adivinhações, mas acertei na previsão feita há uns dias: o futebol cá da terra ia ser animado durante o defeso. E, claro, a agitação não tem nada a ver com os reforços garantidos, falados ou sonhados para os principais emblemas nacionais, nem tão-pouco com as esperadas mega-transferências que, se calhar, nunca vão acontecer. A acção, por ora, decorre sem que jogadores e técnicos sejam chamados a intervir e bem longe dos relvados. Mas com a intensidade própria dos grandes duelos. De países de terceiro mundo, acrescente-se...O que se passou sexta-feira no Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol só surpreende quem não acompanha a modalidade. Tratou-se, apenas e só, da confirmação do que todos sabemos há muito. O futebol é um mundo peculiar onde a maioria dos que deviam pensar a modalidade e zelar pelo rigoroso cumprimentos dos regulamentos se limitam a dançar ao som dos interesses pessoais, das filiações clubísticas ou do tráfico (directo ou indirecto) de influências. É evidente que nem todos os integrantes dos organismos que têm como missão controlar o futebol nacional são "ovelhas negras". Admito, sem ironia, que também teremos por aí gente séria que apenas deseja, com o seu saber, ajudar a que o futebol seja cada vez melhor e mais transparente. O problema é que nunca foi tão difícil separar o trigo do joio. Ou melhor: a separação depende de quem faz a avaliação.Desenganem-se todos os que pensam que só recentemente o futebol luso foi atacado por este "bicho". O mal há muito que tem bilhete de identidade. E poucos devem poder atirar pedras ao telhado dos vizinhos. A história do futebol português das últimas décadas não é, seguramente, um conto de fadas. O problema, como já devem ter reparado, é provar o que quer que seja. Entre recursos de um lado e de outro, testemunhos contraditórios, erros processuais, pedidos de escusa, prazos que não se cumprem e material que não pode ser utilizado por esta ou aquela razão... nesta terra ninguém é culpado de nada. No futebol e não só. Bom, isto aplica-se a gente famosa. Se estiver em causa um mero cidadão, basta atrasar um dia o pagamento de meia dúzia de euros ao Estado e já temos direito a "bónus"!Não faço ideia se a decisão do Conselho de Justiça (ou do que restou dele...) é legítima. Sei é que a "novela" ganhou mais uns "episódios" que prometem ser tão patéticos quanto deprimentes. E sei também que, a ter validade este desfecho, o FC Porto perde um dos trunfos mais altos que possuía. A nível interno, mesmo que lhe retirem pontos (na classificação da época passada ou na próxima), os danos serão mínimos. O problema é lá fora. Platini já mostrou que só espera uma oportunidade para fazer dos dragões um exemplo...PS - Antes da histórica reunião do CJ da FPF, a Assembleia Geral da Liga também foi engraçada. Em primeiro lugar, porque foi dirigida por Valentim Loureiro (como é possível???) e em segundo porque alguns dos emblemas envolvidos nos recentes casos de corrupção acharam por bem votar contra o aumento das sanções contra quem se entreter a tentar viciar a verdade desportiva. Podiam ter todos os argumentos do mundo para dizer não à proposta, mas nesta altura do campeonato... fica mal!
LUÍS AVELÃS