A ÚLTIMA MISSÃO DE MADAÍL


Scolari já foi. Madaíl está para breve. Como em tudo na vida, também parece ter chegado o momento de na FPF se fechar um ciclo e traçar um novo rumo, necessariamente com ideias frescas e filosofia diferente. E outras pessoas, embora por lá exista quem tenha qualidade e trabalhe muito (e bem). Introduzir caras novas e ver sair de cena figuras já gastas não deve significar mexer em tudo e todos.Já me referi várias vezes a Scolari. Teve o mérito de saber vender como ninguém o seu produto; conseguiu ter a maioria dos futebolistas a puxar para o mesmo lado; uniu o povo em torno da equipa; fechou a Selecção aos interesses dos clubes nacionais (foi pena não ter bloqueado outro tipo de interesses...) e apresentou um conjunto de resultados interessantes. Mas, ainda assim, também falhou. E muito! Não precisávamos dos ataques de má disposição, da arrogância sempre que a conversa não lhe agradava, das lições de patriotismo e dos vários erros na hora de convocar, preparar jogos ou fazer substituições. E pior que tudo: não nos levou aos títulos. E mesmo descontando o Mundial de 2006, mantenho que em 2004 só tínhamos de ser campeões da Europa. E este ano, sabendo que nas meias-finais iríamos reencontrar uma Turquia que nem com os 23 jogadores disponíveis nos incomodava, estar na final era o mínimo. Enfim, já é história...Em relação a Madaíl, também sou capaz de apontar algumas falhas. No entanto, creio que essas não estão directamente relacionadas com a Selecção. Nesse particular, o homem esforçou-se: foi buscar um técnico campeão do Mundo (com auxílio exterior para pagar os ordenados), contribuiu para que Portugal organizasse um Europeu e concedeu condições de excelência para a equipa se preparar. As suas falhas não foram tão visíveis quanto as de Scolari. A inacreditável perda de qualidade do futebol luso ao nível dos escalões de formação e a gigantesca confusão em que se transformaram os Nacionais de II e III Divisão, por exemplo, não são assuntos muito mediáticos. Embora sejam bem mais importantes do que se pensa.Antes de passar a pasta, Madaíl tem, em mãos, a última missão: encontrar um novo seleccionador. E nem o facto de estar de saída lhe retira pressão sobre a escolha. Uma má opção pode ter consequências nefastas durante muito tempo, monetária e desportivamente.Não creio que a solução tenha de passar obrigatoriamente por um português. Não sou apologista de naturalizações na Selecção (faço questão de registar a qualidade das exibições de Deco e Pepe no Europeu, o que não me surpreende, pois ser contrário às naturalizações não significa considerar os jogadores em causa maus "artistas"...), mas não me incomoda ver um estrangeiro no banco. Ainda assim, se possível, votaria em Mourinho ou Queiroz. Só que o primeiro, por agora, é impossível e o segundo, para além de pouco provável, não consta ser devidamente apreciado na Federação.Numa segunda linha nacional, Humberto Coelho e Manuel José também me parecem nomes a ter em conta. O primeiro já tem experiência (e recordo-me que a equipa jogava quase sempre bom futebol), mas vai assumir o cargo na Tunísia, enquanto o segundo foi ganhando o respeito interno à custa de dúzias de vitórias em África.Fernando Santos, Jesualdo Ferreira e José Peseiro também são falados mas, sinceramente, não os vejo com "embalagem" para esta tarefa.Lá por fora, assumo, estou rendido a Guus Hiddink. Embora acredite que os russos estão dispostos a ofererer-lhe meia Praça Vermelha para continuar a contar com os seus serviços, creio que valeria a pena tentar. É que o homem tem o condão de fazer brilhar tudo onde mexe, independentemente de ser na Europa, Ásia ou Oceânia. Mas, no mercado internacional, o que não faltam são nomes sonantes. E, seguramemente, gente interessada em tomar conta de uma equipa com alguns dos melhores futebolistas da actualidade. Ter uma equipa notável e jovem é um óptimo cartão de visita. O problema é saber escolher quem tem "mãozinhas" adequadas para um "carro" assim. Pessoalmente voto contra brasileiros e italianos.PS - Chegou-me aos ouvidos que Madaíl pode estar tentado a abordar Cruyff, uma "paixão" antiga. Há quem diga que essa pode ser a grande surpresa. Veremos. Surpresa por surpresa, que seja o holandês e não Paulo Sousa como já li por aí...

LUÍS AVELÃS