OS PRESCRITORES

Surpreendentemente, ou talvez não, muitos são aqueles que acertam a mira numa eventual falta de adequação da actual lei da UEFA que pode afastar o FCP da Champions. Porque, diz-se, os factos de que resultou a acusação da Liga são relativos à época de 2003/2004, ironicamente a temporada em que o FC Porto foi campeão europeu. Já depois de acrescentada a alínea de que todos falam, o Milão, que justificou a adenda, também levantou o caneco!
O que parece estar em discussão é uma mera questão questão jurídica. Isto faz-me lembrar outros tempos, quando dois mortos na China eram, para os nossos jornais, mais importantes que uma pelotão dizimado na savana angolana ou nos mangais da Guiné. A mesma lógica que, sem merecer comentários dos colunitas-vassalos, muitos usaram na defesa dos seus recursos, alegando que os casos já tinham prescrito. Não é um eventual crime que parece estar em causa mas sim a esperteza, saloia ou parola, de conseguir ludibriar a justiça.
Os factos estão aí e podem merecer julgamentos vários. Os tribunais estão a fazer o seu trabalho, a Comissão Disciplinar da Liga fez o seu num tempo recorde, a Federação quer imitiar a sua "afiliada" mas está a tropeçar e os advogados continuam a engordar as suas contas bancárias. Na certeza de que nesta estória da justiça portuguesa uma condenação não assusta ninguém: ou dá pena suspensa ou, caso contrário, o assunto esgotar-se-á sempre de recurso em recurso até ao esquecimento final, sempre com a possibilidade de um qualquer incidente processual poder resolver tudo de uma só penada.
Vivemos tempos difíceis não só porque parece provado que os ricos continuam a enriquecer e que os pobres estão cada vez mais na penúria. No plano moral, está tudo dito quando o principal argumento para a defesa de uma causa é o lapso legal ou o enquadramento jurídico. O que roça a imoralidade sobretudo quando uma sentença não é sequer recorrida.