O ADMIRÁVEL MARINHO DAS NEVES

Marinho Neves teve azar no país onde nasceu. Tivesse nascido nos Estados Unidos e estava rico. Se tivesse nascido na Rússia já não estava vivo - mas essa é outra história... O autor do primeiro best-seller do futebol luso, o famoso "Golpe de Estádio", sempre foi um repórter de mão cheia. Fui seu colega de banca muitos anos e conheço a seiva que lhe corre nas veias e o gosto pela reportagem que tem. Desde que a "Gazeta dos Desportos" acabou, depois de comprada pelo senhor Berardo (já dono do concorrente "Record"), Marinho Neves teve muitas dificuldades em encontrar um lugar num jornal. Porque é uma pessoa incómoda e as redacções estão cheias de comissários políticos. Eu próprio fui na conversa de alguns e não o levei para o "24 Horas" quando o projecto estava a arrancar - e não estive bem. A verdade é que o Marinho Neves é um repórter anacrónico. Não cabe nos jornais demasiado formatados de hoje e fica desfocado na fotografia de família que junta presidentes, jornalistas e restantes primos do futebol. Emendo: não é o Marinho que é um jornalista anacrónico, o jornalismo que hoje se faz é que é... Pois bem, tudo isto vem a propósito da última passagem do MN pela televisão, nos Prós e Contras. Não foi propriamente brilhante, sobretudo quando considerou o único dirigente que lhe pagou alguma coisa "o melhor de todos". Não havia necessidade. De resto, o desassombro do costume. Como já aqui disse, o MN não é perfeito, tem os seus defeitos - mas de falta de coragem ninguém o pode acusar, muito menos os cobardolas que se acolitam nas redacções e que reproduzem fielmente a voz do dono. Lá virá o dia em que o MN assumirá finalmente a autoria do trepidante Blog da Bola. Ou será que esse vai ser mais um segredo tão bem guardado que todos os conhecem, tal como o "Golpe de Estádio"?