CALOTES À PORTUGUESA


Clubes de futebol com dívidas é coisa que sempre existiu em Portugal. De Norte a Sul, passando pelas ilhas, os relatos são constantes. Falta o dinheiro para os profissionais, para os funcionários, para a Segurança Social, para o Fisco... para tudo ou praticamente quase!É evidente que vivemos num País pouco abonado. Se as empresas não carburam em pleno; se os cidadãos se debatem com dificuldades e se o desporto - tendo a sua importância - não é (nem pode ser) a principal preocupação nacional, como é que podíamos ter clubes sempre de boa saúde financeira? É impossível!Mas, nesta equação há sempre uma enorme falta de responsabilidade dos dirigentes. Ninguém com um mínimo de bom senso arrisca fazer orçamentos de determinado valor quando, à partida, lhe falta 30 ou 40 por cento (ou mais...) da verba necessária para honrar os compromissos assumidos. Acreditar que a coisa acabará por se resolver é um mau princípio. E só quem não depende desse dinheiro para viver é que pode considerar esta "táctica" um modelo de gestão. O grande problema dos clubes nacionais é que esta política da fuga para a frente tem ganho adeptos ao longo dos anos. Só assim se explica que emblemas com meia dúzia de associados, com receitas diminutas, resolvam apostar em equipas dispendiosas; que clubes mais mediáticos sonhem fazer frente aos grandes ou que FC Porto, Sporting e Benfica procurem rivalizar com os colossos internacionais. Mais tarde ou mais cedo a bolha rebenta. Os clubes tendem a definhar e, pelo meio, uns quantos profissionais ficam "a ver navios".É urgente deixar a teoria de lado e passar à prática. Os dirigentes não podem continuar impunes no meio deste autêntico circo que, infelizmente, transforma os profissionais de desporto em palhaços. E nem vale a pena dizer que os desportistas (futebolistas em particular) ganham muito bem. Os contratos são feitos por duas partes e os clubes nunca são obrigados a satisfazer as exigências dos atletas. E, já agora, só se pode dizer que fulano ganha bem se, ao final de cada mês, receber o que está estipulado. No Estrela da Amadora e no Boavista, por exemplo, parece que ganham todos o mesmo!Perante este triste cenário, gostei de ver o presidente da Liga a avançar com propostas que visam punir, efectivamente, quem não cumprir as suas obrigações. Difícil será ver os clubes a sancionar estas ideias e, depois, a aplicá-las. É que cumprir é um verbo difícil de conjugar em Portugal, nomedamente nos clubes...


LUÍS AVELÃS